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Sonhos como territórios de aprendizagem: experiências a
partir do povo Nasa e do contexto do Cauca
Paola Lopes Zamariola
Elisa de Oliveira Ribeiro
Para citar este artigo:
ZAMARIOLA, Paola Lopes; RIBEIRO, Elisa de Oliveira. Sonhos
como territórios de aprendizagem: experiências a partir do povo Nasa
e do contexto do Cauca. Urdimento – Revista de Estudos em
Artes Cênicas, Florianópolis, v.3, n.56, dez. 2025.
DOI: 10.5965/1414573103562025e0106
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Florianópolis, v.3, n.56, p.1-25, dez. 2025
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Sonhos como territórios de aprendizagem: experiências a partir do povo Nasa e do contexto
do Cauca1
Paola Lopes Zamariola2
Elisa de Oliveira Ribeiro3
Resumo
O presente artigo debate como os sonhos se apresentam para os povos indígenas Nasa,
buscando compartilhar como determinadas dinâmicas sociais e econômicas
estabelecidas no departamento do Cauca afetam as vidas dessas populações. Nesse
contexto, os sonhos são reconhecidos como zonas de resistência que estão vinculados
a sistemas de educação próprios e autônomos. A potencialidade do cultivo de sonhos
coletivos também serviu de inspiração para a formação do Grupo de Estudos sobre os
Sonhos para os Povos Indígenas na América Latina.
Palavras-chave: Aprendizagem. Cauca. Nasa. Sonhos. Território.
Dreams as territories of learning: experiences from the Nasa people and the Cauca
context
Abstract
This paper discusses how dreams are presented to the Nasa indigenous peoples, seeking
to share how certain social and economic dynamics established in the department of
Cauca have affected the lives of these populations. In this context, dreams are
recognized as zones of resistance that are linked to their own autonomous education
systems. The potential of cultivating collective dreams also served as inspiration for the
formation of the Study Group on Dreams for Indigenous Peoples in Latin America.
Keywords: Learning. Cauca. Nasa. Dreams. Territory.
Sueños como territorios de aprendizaje: experiencias del pueblo Nasa y del contexto del
Cauca
Resumen
El presente artículo analiza cómo se presentan los sueños para los pueblos indígenas
Nasa, con el objetivo de compartir cómo determinadas dinámicas sociales y económicas
establecidas en el departamento del Cauca han afectado las vidas de estas poblaciones.
En este contexto, los sueños se reconocen como zonas de resistencia vinculadas a
sistemas educativos propios y autónomos. El potencial del cultivo de sueños colectivos
también sirvió de inspiración para la formación del Grupo de Estudios sobre los Sueños
para los Pueblos Indígenas en América Latina.
Palabras-clave: Aprendizaje. Cauca. Nasa. Sueños. Territorio.
1 Revisão ortográfica e gramatical realizada por Gabriel Dória Rachwal. Doutor em Letras pela Universidade Federal do
Paraná. Graduado em Artes Cênicas pela Universidade Estadual do Paraná. (UNESPAR). gdoriarachwal@gmail.com
2 Doutorado, mestrado e graduação em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo. Especialização em Artes Visuais pela
Universidade Estadual de Campinas, e em Práctica Escénica y Cultura Visual pelo Museo Nacional Centro de Arte Reina
Sofía/Universidad de Castilla La Mancha. Atualmente é professora da Escola de Arte Dramática. Dedica-se a
investigações e criações vinculadas às perspectivas históricas, às experiências metodológicas e aos contextos de criação
das cenas latino-americanas. paola.lopes.zamariola@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/4533748928651270 https://orcid.org/0000-0003-2254-5389
3 Mestrado Interdisciplinar em Teatro e Artes Vivas pela Universidad Nacional de Colombia. Diplomado em Teoría y
Metodologias Creativas para la Construcción de Culturas de Paz pela Otra Escuela. Realiza estágio em Cultural Survival.
Possui experiência em projetos de defesa dos direitos humanos e em processos organizacionais de base junto a ativistas
locais da América Latina, especialmente no Brasil, na Colômbia e na Guatemala. Atualmente acompanha um grupo de
mulheres que busca familiares desaparecidos pelo conflito armado colombiano. elisailumina@gmail.com
https://lattes.cnpq.br/0256360371813478 https://orcid.org/0009-0009-8022-8884
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Introdução
Este artigo nasce de caminhos de vida e de pesquisa que encontram nos
sonhos e nos territórios do Cauca4 seus fios condutores. São os sonhos que
guiaram e orientaram a investigadora Elisa Ribeiro (Brasil/Colômbia) em seus
estudos relacionados às Artes Vivas na cidade de Bogotá. São os sonhos, também,
que a conduziram e a levaram para a região do Cauca, onde morou e desenvolveu
trabalhos artísticos, pedagógicos e de direitos humanos junto a povos indígenas
como os Nasa5.
Foi através dos sonhos e das interlocuções que estabeleceu com indígenas
como Towê Fulni-ô6 (Brasil) e Milton Nache7 (Colômbia), que Elisa Ribeiro idealizou
o Grupo de Estudos sobre os Sonhos para os Povos Indígenas na América Latina.
Os primeiros encontros aconteceram em 2023, ocasião na qual Paola Lopes
Zamariola (Brasil) passa a integrar tal projeto, momento no qual a pesquisadora
estava na etapa inicial do projeto “Saberes oníricos: sonhos como práticas
artísticas e pedagógicas”.
Os sonhos seguiram conduzindo e produzindo mais encontros e, em 2025, o
Grupo de Estudos sobre os Sonhos para os Povos Indígenas na América Latina
organiza uma série de diálogos junto a artistas convidadas como Marta Coy8 e
Gloria Amparo9, que auxiliaram significativamente na ampliação de referências, na
organização de metodologias e na articulação de novas ações.
Como recorte dos estudos até agora desenvolvidos, o presente texto busca
situar perspectivas vinculadas aos sonhos nos territórios ancestrais do Cauca para
assim melhor compreender de que modo as cosmovisões dos Nasa puderam
estabelecer significativas resistências com relação às diversas disputas e lutas de
4 A Colômbia é dividida em 32 departamentos e um distrito capital. O Cauca localiza-se na parte sudoeste do
país.
5 Também conhecidos como Páez. Habitam territórios da região andina, no sudoeste da Colômbia.
6 Towê Veríssimo é do povo Fulni, de Águas Belas, Pernambuco.
7 Milton Manuel Correa Nache é do povo Nasa, do território de Pitayó, no Cauca, Colômbia.
8 Marta Alicia Sacul Coy é do povo Maya Q’eqchi’, de Alta Verapaz, Guatemala.
9 Gloria Amparo é do povo Nasa, do território de Tumbichucue, no Cauca, Colômbia.
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suas terras. Na contramão das práticas extrativistas como as das monoculturas, o
cultivo coletivo dos sonhos segue sendo uma relevante fonte de vida para as
políticas dessas comunidades. Tais resistências se desenvolvem a partir de
sistemas próprios de educação que criam espaços autônomos com relação à
organização, à administração e às suas proposições pedagógicas. Os sonhos, ao
permearem a construção desses componentes, permitem o reconhecimento de
experiências que possibilitam o acesso a outros modos de concepção e percepção
de mundo.
O artigo busca apresentar algumas das tramas que vinculam a formação
histórica e as dinâmicas sociais e econômicas estabelecidas na região do Cauca,
para, assim, refletir como estas afetam as vidas das populações indígenas Nasa.
Dedica-se o artigo, também, à reflexão de como os sonhos se apresentam para
essas culturas, e como podem ser reconhecidos como zonas de resistência para
seus imaginários.
Serão debatidas, ainda, indagações a respeito de como os sonhos
apresentam a potencialidade de inspirar e incidir em práticas artísticas e
pedagógicas conectadas às Artes Vivas, como é possível reconhecer em
experiências desenvolvidas junto ao Grupo de Estudos sobre os Sonhos para os
Povos Indígenas na América Latina.
Portanto, ao analisar a importância dos sonhos para a construção de sistemas
de autonomia dos povos Nasa, que plantam sementes de resistência há mais de
500 anos no departamento do Cauca, este artigo pretende ampliar referências que
possam levar em consideração a existência de modos diversos de
desenvolvimento de saberes e conhecimentos. Inspirando-se nas perspectivas
Nasa, vislumbra-se que o sonho, como uma ação concreta e coletiva, possa
permear e impulsionar formas de repensar os processos de aprendizagem.
Ksxa’w e I’khwe’sx: os sonhos e as visões Nasa
Ao analisar cosmovisões de povos indígenas da América Latina nas quais os
sonhos se apresentam como um dos tecidos estruturantes das tramas que
constituem suas sociedades, e onde através dos fios que as compõem é possível
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reconhecer formas singulares de articulação e transmissão de conhecimento,
ganhou relevo no presente estudo as práticas coletivas elaboradas pelos Nasa.
Para esse povo indígena o ato de sonhar é uma das linhas centrais a partir da
qual são compostas e sustentadas alianças entre todos os seres que fazem parte
dessas comunidades. Os Nasa, que habitam principalmente os cursos superiores
dos rios Cauca e Magdalena na região andina da Colômbia, através de uma
economia majoritariamente agrícola e por meio de plantios avessos aos da
monocultura – como os do algodão, da cana-de-açúcar, da coca, da mandioca, do
milho, entre outros possuem uma forte vinculação com as águas em sua
cosmogonia.
Nasakiwe10 se forma somente a partir das instruções dadas por Ksxa’w11 para
um Eekthë’wala12 que morava sozinho em uma grande casa. Com auxílio dos filhos
que recebeu dos sonhos Uma13, Tay14 e de A’te15 que posteriormente também
são convertidos em trovões, são gerados os Nasawe’sx16.
Os Nasanas17 passam a existir somente depois que as estrelas conseguem
fecundar as águas, para assim então nascer os Yu’luucx18, o povo Nasa. É a partir
desta perspectiva particular que os Nasa se reconhecem como netas e netos do
trovão, e filhas e filhos das águas. E é através dessa mirada singular para os
eventos que constituem as existências de seus territórios, que identificam a
chegada de um novo ser quando se forma uma tempestade acompanhada por
ventos e trovões, seguida por um deslizamento de terra em uma nascente.
10 Termo Nasa Yuwe, a língua Nasa, para nomear a Terra.
11 Designa tanto água ou espírito que caminha com o sonho, que ocorre enquanto se dorme.
12 Sábio do Espaço, o Trovão.
13 Sol mulher.
14 Sol homem.
15 Lua.
16 Seres coletivos por excelência, compostos pelas plantas, pelos animais e pelos minerais.
17 Humanos.
18 Filhas e filhos das águas.
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As terras ancestrais dos Nasa, que hoje estão distribuídas em municípios
como Caldono, Corinto, Inzá, Jambaló, Páez, Santander de Quilichao e Toribio, são
por eles compreendidas como Yat19. A terra, Yat Wala20, compreendida como
grande casa para os Nasa, é um espaço de vida, um lugar para se gerar vida. Para
a vida poder existir nessa casa, seus habitantes precisam cultivar sementes de
vida em seus territórios. Nessa casa, tal como o sábio que gerou o mundo Nasa,
as avos e as avôs são os que possuem os conhecimentos que orientam este
espaço, sendo elas e eles as e os cultivadores da vida por excelência.
A terra é a responsável por criar e parir suas filhas e filhos. Mas onde e como
nascerão são informações que cabem aos sonhos comunicar a essa sociedade.
São os sonhos que detalham em qual parte do território, em qual nascente de
água, vai acontecer o parto, além de informarem o que precisa ser purificado e
harmonizado pela comunidade no local no qual acontecerá o nascimento.
Vale aqui destacar que a metamorfose é um dos princípios seminais para o
povo Nasa. Os ciclos da vida e suas transformações, que se apresentam em
contínuas espirais nos sonhos, orientam organizações desta sociedade e auxiliam
no cuidado da casa que a abriga (Yule Yatacue; Vitonas Pavi, 2010).
Os saberes advindos dos sonhos são reconhecidos pelos Nasa por trazerem
conhecimentos de trovão, uma vez que o sonho tem a força e a função de um raio
que arrebata e ilumina um processo de aprendizagem, seguindo a linhagem dos
conhecimentos de Eekthë’wala, Uma, Tay e A’te.
Como manifestações que despertam os sentidos, exercitam sensibilidades e
acessam habilidades, os saberes de trovão também são compreendidos como
uma prática. Por isso, são encarados como um exercício contínuo e vital para o
qual é de fundamental importância cultivar cotidianamente gestos de cuidado,
pedidos de proteção e ações de agradecimento.
São os Thë’wala21 que têm sonhos e visões que revelam chegadas e partidas
que contribuem no encaminhamento de conflitos internos e externos, bem como
19 Casa.
20 Casa grande.
21 Médicas e médicos tradicionais que são autoridades espirituais.
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nas decisões políticas de suas comunidades. Além disso, pela perspectiva da
cosmovisão Nasa, desde que nasce, toda pessoa recebe uma companhia espiritual
que orienta sua jornada de vida em forma de sonhos e de visões. É por intermédio
desses processos que são herdados e transmitidos saberes e conhecimentos. Os
sonhos e as visões são guias que auxiliam na previsão de acontecimentos e na
mediação entre os espíritos e os outros seres.
Tais recursos, advindos dos sonhos, apresentam registros da realidade que
se assentam sobre bases epistemológicas próprias, fazendo com que, muitas
vezes, a explicação formal e concreta não conta de explorar todos os seus
significados, uma vez que a diversidade com que esses termos são conhecidos e
vividos nos territórios tem a ver com experiências reais e corporais dos que
experienciam essas práticas. No entanto, detalhamos aqui duas formas através
das quais os Nasa reconhecem essas companhias espirituais.
Uma delas é através do Ksxa’w, palavra composta e sobreposta por inúmeros
sentidos. Quando se pergunta às sábias e aos sábios a respeito do Ksxa’w, elas e
eles respondem que significa o rio que caminha o território, o espírito que anda, o
sonho criador ou o sonho enquanto se dorme. De maneira complexa, eles
evidenciam que os sonhos estão conectados com o território, com seu
ecossistema e com tudo que habita nele. Além disso, enfatizam aspectos de
profundidade e responsabilidade relacionados ao Ksxa’w, uma vez que está
relacionado aos seres ancestrais.
A outra é o I’khwe’sx22, que se manifestam quando se visualiza algo quando
se está acordado. Para as sábias e os sábios, os I’khwe’sx orientam “las autoridades
acompañadas de sus espíritus guardianes del día y de la noche” (CICT, 2017, p. 21).
Nessa modalidade, as visões são compreendidas como avisos ou modos de
comunicação com outros seres. Às vezes se apresenta como um sinal de boas
vindas, em outras como um alerta de que estão chegando pessoas estranhas no
território. Acrescente-se ainda que pode se dar na forma de direcionamento para
o futuro e até mesmo no reconhecimento da energia de ancestrais, animais ou
22 Visões nas quais se está desperto.
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elementos da natureza que acompanham determinadas pessoas. Na cosmovisão
Nasa, portanto,
el sueño y la visión se constituyen en una constante práctica de heredar
saberes y conocimientos. El acto de soñar despierto y dormido son
momentos de contacto, son los momentos de contacto y de diálogo y de
relación con los espíritus protectores, guardianes, en ese momento se
vuelven guía (Yule Yatacue; Vitonas Pavi, 2010, p. 166).
Cauca: contexto histórico
O departamento do Cauca é o território ancestral de onze povos indígenas23,
sendo que os mais numerosos são os Nasa, que desde a invasão de seus territórios
pelos espanhóis têm sua história marcada pela disputa de terras. Em períodos
anteriores ao colonial, suas comunidades possuíam grande autonomia material
através do cultivo da mandioca, do milho e do algodão. Porém, a busca
desenfreada por ouro pelos colonizadores alterou drasticamente tal realidade,
que, através da prática da escravização reduziu essas populações indígenas,
gerando migrações, significativas mudanças culturais relacionadas ao território e à
terra, e perda das línguas originais.
Para buscar resistir a tais processos, comunidades se deslocaram das zonas
mais baixas do Cauca para se estabelecerem em localidades mais altas. Um
importante lugar de resistência foi Tierradentro, localizado entre os municípios de
Páez e Inzá. Tierradentro foi o epicentro de um histórico levante indígena que se
iniciou em 1914, liderado por Manuel Quintín Lame24, que buscou recuperar a
autonomia da região e, apesar de enfrentar muitos percalços como problemas
com os proprietários de terras e as autoridades civis e militares –, alcançou
conquistas para os povos indígenas que ressoam até os dias atuais (Lame, 2020).
No final da década de 1960, a região do Cauca, incluindo Tierradentro, é
marcada pelo acirramento na disputa de suas terras, momento no qual as
comunidades rurais e indígenas perderam grande parte de seu território. Somente
23 Segundo o Consejo Regional Indígena del Cauca (CRIC), são: Nasa, Misak, Yanacona, Inga, Embera, Totoroez,
Eperaara Siapidaara, Kishu, Ampiule, Kokonuko, Polindara.
24 Manuel Quintín Lame Chantre (18801967) atuou na defesa dos povos indígenas e lutou pela formação de
uma república indígena independente.
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em 1971 foi possível criar o Consejo Regional Indígena del Cauca (CRIC)25 para assim
lutarem e alcançarem a soberania de algumas de suas terras. Embora a
recuperação tenha acontecido em sua quase totalidade, tal processo não foi
pacífico, sendo marcado pela estigmatização, perseguição e massacre de diversas
lideranças indígenas (CRIC, 2022a).
Emaranhado em uma teia cheia de complexidades e contradições, ao longo
das últimas décadas somam-se a esses territórios, movimentos de guerrilha que
apresentaram projetos de caráter prioritariamente nacional, como os das Fuerzas
Armadas Revolucionarias de Colômbia - Ejército do Povo (FARC-EP), os do Ejército
de Liberación Nacional (ELN), e do Movimiento 19 de Abril (M-19). E outros, como
os do Movimiento Armado Manual Quintín Lame (MAQL), que apresentou uma
agenda específica de promessa de autoproteção para as comunidades indígenas
do Cauca (Peñaranda, 2015), afetando de maneira significativa as dinâmicas de
Tierradentro.
Um aspecto importante a ser destacado, que faz parte da história econômica,
política e social do Cauca como um todo, é a questão que envolve o plantio de
coca. Uma planta com alto teor nutritivo e muito importante para as culturas
andinas, nas quais “el uso de la coca es runakuna26, del pueblo, y masticar las hojas
sagradas es la expresión más pura de la vida indígena. Si se elimina el acceso a la
coca, su espíritu quedará destruido" (Henman, 2019, p. 21).
Devido à sua disposição territorial e aos usos culturais e medicinais para os
Nasa e outros povos indígenas, tal região desenvolveu muito conhecimento acerca
dos cultivos da planta, o que facilitou a entrada de plantios ilícitos e de
narcotraficantes. Nesse sentido, é o crescimento econômico proveniente das
plantações de coca que auxiliaram no fortalecimento e na expansão das guerrilhas.
Apesar de buscarem manter práticas de cordialidade com a sociedade civil,
não são escassos episódios nos quais narcotraficantes, paramilitares e o próprio
estado cometem abusos a partir dos poderes adquiridos, como em episódios
25 Fundado em 1971 no município de Toribio, é uma das estruturas de base para a resistência e a defesa dos
territórios indígenas do Cauca. Possui projetos de luta por soberania, especialmente nos setores político,
econômico e cultural. Atua a partir de quatro princípios: a unidade, a terra, a cultura e a autonomia.
26 Termo quíchua utilizado como maneira de se autodenominar e também de referenciar o povo a qual se
pertence.
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contra os povos indígenas como o massacre El Nilo. Em 1991, logo após assinarem
a nova Constituição Política da Colômbia, que reconhecia os povos indígenas como
sujeitos de direitos deste país, acompanhados de policiais, paramilitares invadem
a fazenda El Nilo ocupada por indígenas Nasa e matam 21 pessoas.
Nessas lutas por terras, as monoculturas como os de coca, além dos de
maconha, seguem alimentando o narcotráfico. Além disso, o plantio extensivo de
cana-de-açúcar e as construções de hidrelétricas, empreendimentos realizados
sobretudo por iniciativas internacionais que não beneficiam em nada as
populações locais, geram subempregos em situações análogas à escravidão,
massacres e perpetuam o desaparecimento de pessoas para que as indústrias
possam se apoderar desses espaços.
Somado à presença de grupos armados, que recrutam menores de idade,
reproduzem violências de gênero, esgotam recursos, e que deixam marcas
irrestituíveis nesse território,
a partir del 2000 se da una diversificación en las formas de violencia que
incluyen a gran parte de la población civil: atentados, reclutamiento,
minas antipersonales, desplazamientos, incremento de combates y
hostigamientos, violencia sexual, desaparición forzada y secuestros,
ampliaron el abanico de acciones que afectaron a nuestros pueblos
(CRIC, 2022a).
Através dos processos e do acordo final de paz estabelecido entre o governo
da Colômbia e as FARC-EP, em 2016 houve a criação de comissões como a
Comisión de la Verdad (CEV), comprometida em buscar detalhar, dimensionar e
reparar as violações ocorridas durante o conflito armado interno. A Jurisdición
Especial para la Paz (JEP), dedicada a investigar, julgar e sancionar os crimes
cometidos durante o conflito armado colombiano, antes de 1o de dezembro de
2016. E a Unidad de Búsqueda de Personas Desaparecidas (UBPD), de caráter
humanitário e extrajudicial, encarregada em coordenar e contribuir para a busca
de pessoas desaparecidas antes do ano de 2016. Apesar de tais iniciativas, é
inegável reconhecer que
en los últimos años la guerra ha vuelto a extenderse por Colombia. El
Cauca sigue siendo epicentro de violencias que impactan especialmente
a sus poblaciones rurales, concentrando las cifras más altas de líderes
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sociales y excombatientes asesinados, así como un aumento en el
reclutamiento de menores, principalmente en comunidades indígenas
(Mostacilla, 2025, p. 9).
Além disso, os territórios do Cauca seguem enfrentando episódios de
repressão do exército colombiano através da presença de lideranças de outras
regiões que visam a integração de suas populações indígenas a movimentos
armados fomentados por uma série de guerrilhas que continuam a emergir em
diferentes contextos da Colômbia. De fato, os momentos de paz duraram pouco
nos territórios indígenas, seguidos de grandes ondas de violência geradas pelas
dissidências dos grupos armados que voltaram a competir, de forma mais
fragmentada e violenta, uma vez que:
hay una división de los dos ciclos de violencia en Colombia, que se
interconectan en el incumplimiento de los acuerdos de paz actuales, en
otras palabras, el reformismo frustrado del primer periodo del Frente
Nacional fue la condición que activó el nuevo ciclo de guerra, lo cual le
da pie [...] para decir que el incumplimiento al proceso de paz actual,
activará otro ciclo de violencia en Colombia (Baquero-Monroy, 2021, p.
135).
Deste modo, é possível diagnosticar diferentes modos de aniquilamento
sistemático das culturas indígenas do Cauca que viabilizam o apagamento de
idiomas que existiam séculos, o esgotamento de formas de plantio e a
destituição de práticas coletivas como sonhar. É nesse sentido que, para além de
refletir sobre os efeitos da guerra no Cauca, o presente estudo identifica a
necessidade de melhor compreender os espaços de resistência e autonomia
sustentados através dos sonhos para os Nasa,
Resistências e práticas coletivas de organização: sonhos políticos e
estruturas pedagógicas dos povos do Cauca
Na atualidade, os diferentes povos do Cauca se organizam a partir de leis
inicialmente articuladas e divulgadas pelos pensamentos de Manuel Quintín Lame.
Com a criação e o fortalecimento do Consejo Nacional Reginal del Cauca (CRIC),
as comunidades dos territórios Nasa tiveram a possibilidade de refletir a respeito
de estruturas próprias.
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Existem três estruturas que auxiliam na configuração de um sistema de
educação autônomo, apoiado e desenvolvido conjuntamente ao CRIC. Uma delas
é o Programa de Educación Bilingue Intercultural (PEBI), criado em 1978 como
parte da defesa da história, da língua e da cosmovisão dos povos ancestrais do
Cauca, que tem como princípios: a educação bilíngue, sendo o espanhol a segunda
língua; o ensino comunitário e intercultural; e processos de aprendizagem que
privilegiem saberes próprios e locais.
Essa iniciativa possibilitou que os percursos educacionais fossem
oficialmente realizados nas línguas dos povos indígenas, onde a formação bilíngue
se apresentou como um fator decisivo para a organização comunitária e para o
fortalecimento político de seus diferentes territórios.
Outra estrutura é a Crianza y Siembra de Sabidurías y Conocimientos
(CRISSAC), criada em 2021, a partir das vivências dos povos indígenas, organizada
como metodologia de investigação e educação, que tem como fundamento ações
comunitárias que visam criar e semear, de modo a valorizar a transmissão entre
gerações e a integração de todos os sentidos nos processos de ensino.
Dessa maneira, os aprendizados não são idealizados somente a partir de
elementos teóricos, mas, principalmente, desenvolvidos a partir de demandas
práticas. Assim como reflete o antropólogo colombiano Sebastián Levalle, para os
Nasa “la teoría tenía validez si permitía transformar la realidad local, el
conocimiento surgía de la práctica y se debía a ella” (Levalle, 2024, p.73). O
CRISSAC, portanto, é uma ferramenta pedagógica através da qual os estudos são
baseados em vivências territoriais, espirituais e comunitárias, uma vez que “criar
sembrar para nosotros es: senti-pensar, conversar, preguntar, preparar y visibilizar.
Se trata de llegar al conocimiento y sabiduría desde la cultura” (CRIC, 2021, p. 10).
Além da estrutura que articula um Sistema Educativo Indígena Propio (SEIP),
que se torna oficial no ano de 2022, construído a partir da revisão de processos
formativos existentes, e que teve como foco a articulação da educação Nasa
por intermédio de experiências que permeiam seus cotidianos. O SEIP consegue
se consolidar ao se tornar uma política pública que é reconhecida nacionalmente,
o que garantiu que os povos indígenas colombianos tivessem direito a uma
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educação autônoma por intermédio de componentes políticos, administrativos e
pedagógicos, que fomentam o
proceso integral de rescate, recreación y/o fortalecimiento vivencial de la
lengua materna, valores culturales, tradiciones, mitos, danzas, formas de
producción, sabiduría, conocimiento propio, fortalecimiento de la
autoridad, autonomía, territorio, autoestima, crecimiento y desarrollo, que
crea, recrea, transmite y reafirma la identidad cultural y formas propias
de organización jurídica y sociopolítica de los pueblos indígenas y
potencia las condiciones para lograr un buen vivir comunitario centrado
en la unidad, diálogo, reciprocidad, capacidad para proyectarse y
articularse a otras sociedades respetando los derechos de todos, hacia la
construcción de sociedades plurales y equitativas (CONTCEPI, 2013, p. 36).
PEBI, CRISSAC e SEIP são estruturas sistematizadas de grande relevância para
os Nasa. Enquanto a visão clássica e dominante da educação se pauta a partir de
leis universais como a objetividade, impondo que a realidade é apenas uma e que
somente é possível reconhecê-la a partir do que se pode observar e verificar por
meio de aspectos quantitativos, os princípios concebidos pelos Nasa propõem o
convívio em harmonia e equilíbrio com diferentes dimensões da existência
coletiva.
Por intermédio de cada uma dessas estruturas é possível evidenciar o
entrelaçamento da relação entre a história do Cauca e dos sonhos, que conectam
e proporcionam formas de repensar e articular outras estruturas pedagógicas, uma
vez que apresentam um lugar chave nas articulações comunitárias.
São os sonhos que tornam possível o reconhecimento dos diversas seres que
constroem o tecido de vida, para os quais a existência se em espirais, e onde
os caminhos que orientam as ancestralidades se apoiam, principalmente, em
demandas comuns.
Em uma educação com forte base na participação coletiva, estruturada a
partir das práticas da oralidade, do idioma, da memória, e da espiritualidade, os
saberes passados de geração em geração a partir do exercício narrativo são
também difundidos na prática comunitária de relatar os sonhos.
Através dessa ferramenta pedagógica, os povos do Cauca garantem que o ato
de sonhar seja um elemento relevante e presente nas práticas de decisões
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territoriais, sendo levados em consideração e fazendo parte de “un proceso
sentivivencial de la naturaleza, familia y comunidad, para recrear, profundizar,
visibilizar, construir, reproducir y compartir las sabidurías y conocimientos(CRIC,
2021, p. 9).
Ao narrar seus sonhos, os Nasa encontram uma maneira de priorizar os atos
de
cuidar, despertar y potencializar las semillas para que despierten
sus dones desde la orientación de los The’sawe´sx (mayores), en
función del Wëtwët fxi’zenxi (buen vivir) comunitario, del camino del
territorio, del camino colectivo, que todos nos cuidemos y vivamos
bien y alegremente para fortalecer el sueño de nuestras
comunidades (CRIC/PEBI, 2022, p. 15).
Esses sistemas de educação própria tem formado muitas gerações na
oralidade, na arte, na sabedoria, na espiritualidade e no bem viver com outros
povos. Tais iniciativas surgem e sobrevivem como forma de resistência e de
sustentação das culturas locais. Como acontece com a grande maioria dos povos
indígenas da América Latina, que se estruturam a partir de uma forma singular de
construção de pensamentos e transmissão de saberes, o aspecto que gostaríamos
de apontar é a diferença, por um lado, entre sistemas que privilegiam a escrita e,
por outro, uma estrutura de educação baseada especialmente a partir da
oralidade.
Dentro dos sistemas de educação do povo Nasa, as crianças praticam,
compartilham e interpretam seus sonhos para assim poder desenvolver, a partir
da fala, seus processos formativos. De acordo com atividades pedagógicas que
contemplam o ato coletivo de narrar os sonhos, uma criança pode compreender
que possui o dom de tecer, a habilidade de poder ensinar a própria língua, ou
reconhecer que tem o potencial de se tornar médica ou médico tradicional.
As comunidades envolvidas no desenvolvimento desses sistemas conversam
com as e os mayores, sentam para mascar coca, observam os rios e as montanhas,
sonham, interpretam os sonhos, se reúnem para fazer mingas de palabras27. Assim
como os mutirões, as mingas são modos de organização comunitária compostos
27 Práticas coletivas de apoio mútuo.
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pelos atos de sentar e escutar as e os mayores para que estes guiem os caminhos
de acordo com as perspectivas ancestrais de sua cultura.
Esses encontros acontecem ao redor da tulpa28 que “es un espacio, donde se
sienta a conversar a orientar alrededor del fuego, mambeando la coca, brindando
bebidas propias, el chirrincho, la chicha de caña y de maíz, estar conectado con
los espíritus, a chicha de cana e de milho, conectando-se com os espíritos”
(CRIC/PEBI, 2022, p.15).
Desde que se mudou para Tierradentro, Elisa Ribeiro passou a trabalhar como
professora de artes em uma escola rural indígena e as perguntas acerca dos
sonhos foram ganhando cada vez mais importância. Morou em um território
formado por montanhas e rios, junto a mayores, plantas sagradas e semillas. Mas
também permeado pela guerra, pelas monoculturas de coca e maconha, vendo
diariamente, e de perto, crianças e adolescentes serem recrutadas para o conflito
armado.
Em meio a esses processos, Elisa perguntava o que sonhavam quando
dormiam e a maioria, que eram quase quinhentas alunas e alunos, contava que
sonhava com três pessoas, ou três animais, ou três seres que a perseguiam. Esses
sonhos possuem conexão com os três mundos que compõem a cosmovisão Nasa.
Uuthasx Kiwe Ksawesx29, o mundo intermediário, habitado pelos homens, pelos
animais e pelas plantas; Kiwe Txiite30, o mundo inferior, habitado, também, pelos
mortos; e Ëete kiwe31, o mundo superior, o entorno da Terra, habitado pelos
espíritos.
Quando as e os estudantes respondiam sobre os sonhos relacionados ao
futuro, não tinham perspectivas maiores do que colher maconha ou ir para a
guerrilha, porque infelizmente são as possibilidades que se apresentam nesses
contextos de maneiras muito complexas, o que requer um aprofundamento em
28 Lugar de reunião e transmissão oral da cultura dentro do lar Nasa, dirigido pela pessoa mais velha de cada
família.
29 Composto pelo que está acima do solo.
30 Composto pelo que está abaixo do solo.
31 Composto pelo Espaço, e pelo que está além da Terra.
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suas questões para poder entender as diferentes arestas que essa trama de
fatores carrega.
Questões como, “quem tem o direito a sonhar? Como sonhar em meio a uma
guerra?”, foram algumas das perguntas que acompanharam Elisa Ribeiro nesse
processo. Apesar de todas as contradições, as e os mayores, assim como as
médicas e os médicos tradicionais não deixavam de fazer rituais, escutar seus
ancestrais e compartilhar sonhos que guiavam decisões individuais e coletivas.
Como, por exemplo, quando Elisa participa da elaboração de um dos documentos
do SEIP, em um momento no qual a escola em que trabalhava passou por um
processo de crescimento e a comunidade precisou decidir a respeito da
construção de um novo espaço para receber alunas e alunos que chegavam de
outros territórios em decorrência do conflito armado interno.
Para tanto, as e os professores reuniram as e os Thë’wala junto às pessoas
da comunidade para se sentarem embaixo das estrelas, mascarem coca e
realizarem rituais para poderem sonhar juntos, e, assim, tomarem decisões
concretas a respeito da construção do novo edifício. A consulta de como, onde
seria construído, de qual forma, quantas salas teriam, quais seriam os materiais,
quem seriam as pessoas que trabalhariam na condução da construção e em qual
época do ano, durou dias.
A cada dia que as e os Thë’wala perguntavam o que cada pessoa havia
sonhado, cada sonho era interpretado em diálogo com todos que estavam
presentes. Esses sonhos eram importantes para saber como ia ser o ritual, e quais
seriam os próximos passos.
Diferente de sonhos individuais, em que geralmente o sonhar está
relacionado com um desejo limitado e material, em estruturas como as CRISSAC,
SEIP e PEBI, nas quais a educação é sonhada como coletividade, os sonhos são
parte estruturante de suas experiências políticas e pedagógicas. Sendo a
sensibilidade uma das bases para a formação e resistência dos povos indígenas
do Cauca, os sonhos se tornam elementos primordiais para a orientação de
caminhos de aprendizagem que estejam em consonância com a busca e a garantia
de autonomia para suas existências.
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Grupo de estudos sobre os sonhos
Por muitos motivos, sendo um deles a violência iminente, e por questões de
segurança, Elisa Ribeiro decide voltar para o Brasil por um período, com uma ideia
que a acompanhava, que era organizar um grupo de estudos no qual essas
histórias de resistências a partir dos sonhos pudessem ser contadas e
amplificadas a outros espaços. Bastante inspirada pelas reflexões acerca dos
sonhos realizadas por Ailton Krenak, quando reconhece o sonho
não como experiência cotidiana de dormir e sonhar, mas como exercício
disciplinado de buscar no sonho as orientações para as nossas escolhas
do dia a dia. Para algumas pessoas, a ideia de sonhar é abdicar da
realidade, é renunciar ao sentido prático da vida. Porém, também
podemos encontrar quem não veria sentido na vida se não fosse
informado por sonhos, nos quais pode buscar os cantos, a cura, a
inspiração e mesmo a resolução de questões práticas que não consegue
fazer fora do sonho, mas que ali estão abertas como possibilidades
(Krenak, 2020, p. 52-53).
O Grupo de Estudos sobre os Sonhos para os Povos Indígenas na América
Latina se tornou, então, um espaço para compartilhar sonhos que temos enquanto
dormimos, mas que também foi demonstrando a capacidade de ir muito além
disso. Revelando, aos poucos, a necessidade de abrir espaços para indagar a
respeito das diversas formas que artistas de diferentes territórios utilizam o sonhar
para criar, se inspirar, tomar decisões da vida cotidiana, se comunicar, e articular
diferentes modos de estar no mundo.
Os encontros, que acontecem uma vez ao mês, são idealizados a partir de
uma aposta na criação de metodologias que possam organizar espaços para
diálogos sobre os sonhos e suas diferentes perspectivas. Buscando sair de uma
visão somente ocidentalizada e psicologizada, e abrindo perspectivas, como
propõe o intelectual indígena Misak Abelino Dagua Hurtado, que possam “desvivir
lo vivido del mundo colonial para otro aprender a aprender” (Obando Villota, 2016,
p. 107).
Em 2023 o objetivo do grupo foi compreender e conversar de maneira virtual
sobre as diferentes perspectivas dos sonhos para alguns povos indígenas da
Colômbia e do Brasil. As leituras que apoiaram os primeiros estudos coletivos
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desse processo foram: “A queda do céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert; “A vida
não é útil”, de Ailton Krenak, Guambianos hijos del aroiris y del agua”, de Abelino
Dagua; e Pees Kupx Fxi’Zenxi, la metamorfosis de la vida”, de Marcos Yule e
Carmen Vitonas.
Ao total, foram realizados quatro encontros de duas horas divididos em duas
partes, a primeira com o foco no debate a respeito das leituras e dos materiais de
apoio, que também incluíam referências audiovisuais. E a segunda com a
participação de convidadas e convidados indígenas que falavam sobre
experiências pessoais e comunitárias, principalmente sobre as relações que
estabelecem entre suas proposições artísticas e os sonhos. Nessa ocasião os
convidados foram Milton Nache e Towê Fulni-ô.
Em 2025, também de modo virtual, os encontros foram ampliados para oito
sessões que tem acontecido uma vez ao mês, de abril a dezembro, com o objetivo
de compartilhar e discutir com maior tempo e profundidade acerca dos sonhos
para outras perspectivas indígenas da América Latina, por intermédio da
interlocução com convidadas e convidados do Brasil, da Colômbia e da Guatemala.
O grupo de estudos também tem se orientado pelo questionamento acerca
de qual é o lugar dos sonhos nos processos de criação artística dos povos
indígenas da América Latina, buscando que cada artista indígena convidado
construa e partilhe materiais práticos e teóricos através dos quais suas vozes
possam ser validadas e divulgadas em espaços artísticos e acadêmicos.
Ainda em curso, os encontros têm proporcionado trocas muito profundas
com relação à diversidade de culturas e saberes que as e os artistas indígenas têm
trazido aos encontros, em que os sonhos são ferramentas de conexão entre esses
diferentes contextos.
Atualmente o grupo é composto por pessoas com perfis, idades e lugares
diversos: brasileiras e brasileiros, colombianas e colombianos, chilenos e peruanos
que, em sua maioria, vivem em zonas urbanas, até jovens do povo Nasa e Q'eqchi’,
habitantes de territórios indígenas que, ao compartilharem suas, experiências
recordam que
o sonho é um lugar de veiculação de afetos. Afetos no vasto sentido da
palavra: não falo apenas de sua mãe e seus irmãos, mas também de
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como o sonho afeta o mundo sensível; de como o ato de contá-los é
trazer conexões do mundo dos sonhos para o amanhecer, apresentá-los
aos seus convivas e transformar isso, na hora, em matéria intangível
(Krenak, 2020, p. 21).
Nesses encontros, com duração aproximada de três horas, logo no início as
e os participantes se apresentam através de sonhos que desejam partilhar. Na
sequência, por uma hora, a pessoa convidada apresenta suas proposições e ao
final abre um espaço para perguntas e trocas. Os diálogos suscitados têm
acontecido de forma bastante participativa e mobilizadora. E depois de uma
pequena pausa, uma atividade de criação é proposta a partir das provocações que
a convida do dia trouxe.
Em geral, são práticas artísticas que buscam transformar a escuta em ações
performativas vivenciadas através de escritas em fluxo, desenhos de ilustrações,
realização de esculturas, elaborações de vídeos curtos, construções poéticas e
registros imagéticos. Após a partilha desses materiais entre todos presentes, o
encontro é encerrado com uma breve conversa sobre as imagens dos sonhos
partilhadas no início do dia, nesse momento, afetadas pelos deslocamentos
produzidos pelas proposições da pessoa convidada e das criações realizadas.
Milton Nache, multi-artista cujos sonhos são disparadores de suas criações
artísticas, foi um dos primeiros convidados do Grupo de Estudos sobre os Sonhos
para os Povos Indígenas na América Latina em 2025. Por intermédio dos sonhos
realiza pinturas em diferentes técnicas que vão desde aquarela até murais
comunitários, escrita de roteiros de curta e longa-metragem para cinema, e
dramaturgias para teatro.
Além de ser produtor do Piyaj yu Festival que, desde 2013, ocorre uma vez ao
ano no território de Pitayó. Milton também integra e acompanha processos de
formação em pedagogias próprias em todo o Cauca. Durante sua fala, Milton
partilhou instigantes reflexões a respeito do povo Nasa, afirmando que
nuestra cultura es una cultura muy rica en tradición oral, en historia y
sobre todo hay una práctica muy importante para la cultura Nasa que es
la medicina tradicional. Los Thë’wala (médicos tradicionales) sustentan
mucho las señales32 del cuerpo para poder encontrar soluciones a
32 Sinais, reconhecidos a partir de pequenos tremores que ocorrem em alguma parte do corpo. São
interpretados pelas médicas e médicos tradicionais de acordo com o movimento e sua localização.
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muchas enfermedades, y por medio de los sueños ellos encuentran
soluciones. La sabiduría va pasando de los abuelos a los padres y de los
padres a los hijos y hay algún momento específico en que la persona es
elegida para ser Thë’wala. Una persona que puede curar, que puede sanar,
que puede dar salud, y eso viene por medio de señales en el cuerpo o
por medio de los sueños. Sueños que la persona tiene y tiene que
interpretar, imaginar, profundizar. Es como un mandato que la persona
tiene desde el cosmos. Hablando con un Thë’wala, don Michelangelo, él
me decía que gran parte de lo que él sabía lo había adquirido así, porque
soñaba con su abuelo y su abuela y ellos le daban a conocer ciertos
nombres de ciertas plantas para que él hiciera la medicina, o ciertos
procedimientos para que encontrara la cura de enfermedades de
personas que iban hacía a él a preguntar. Entonces él tomaba nota de
todo lo que soñaba e iba a la naturaleza y miraba y oía la planta y
comenzaba a experimentarla, a hacer ensayos con la planta y algunas
veces le funcionaba, otras no tanto pero iba completando su
conocimiento. Hablando con él también me daba las claves para
interpretar algunos sueños (Nache, 2025, n.p.).
Outro convidado foi Towê Veríssimo, músico do povo Fulni-ô. Towê, em Ia-
tê, a língua Fulni-ô, significa “fogo”. A partir dos sonhos, busca se conectar com
suas ancestralidades para assim criar cantos e sonoridades. Pertencentes ao
território de Águas Belas, região semiárida no sertão pernambucano, os Fulni-ô são
um dos poucos povos indígenas que conseguiram manter sua língua, sendo o
Ouricuri33 um dos rituais mais importantes para a manutenção da sua cultura.
No dia do encontro com Towê, o músico apareceu sentado na cama de uma
casa com uma parede azul, com um cocar de penas brancas, verdes e cinza na
cabeça, e seu violão. Cantou canções que escreveu a partir de vivências complexas
e cheias de mistérios como os sonhos e as visões. Compartilhou que, nessas
experiências, as coisas não precisam ser isso ou aquilo, que elas tem o potencial
de justapor sentidos, e ser isso e também aquilo. É através da multiplicidade de
tempos e espaços que a música se apresenta como veículo de trânsito de
realidades, como meio de cura, como forma de medicina.
Para os Fulni-ô o canto é sagrado e, através dele, é possível conversar com
outros seres. Towê enfatizou que para isso se dar de maneira fluida, é preciso
estar em conexão e em diálogo com todos os seres, escutando a chuva que canta,
33 Realizado durante três meses, nos quais o povo Fulni-ô se isola, falando sua língua e vivendo como seus
antepassados. Não existem mais detalhes sobre esse ritual já que o silêncio e o não-compartilhamento foi
a forma que encontraram para manter suas culturas em resistência.
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observando o rio que flui, conversando com a terra em seus processos de
transformação, acolhendo as presenças de diferentes sonhos e visões. O
convidado pontuou que
o sonho é aquele que quando você tá no sono bem pesado mesmo é o
que você viu durante o dia e fica na mente da gente, daí quando você vai
dormir sonha. E tem a visão, ela é quando você tira aquele soninho leve
que não tá dormindo mas… aí sim, você tá vendo mesmo o que é que
acontecendo, essa é a visão (Veríssimo, 2025, n.p.).
Para os Fulni-ô sonhos são realidade. Para se sonhar e viver mais bonito,
Towê recordou a importância de se conectar com a Mãe Terra e com pensamentos
bons, relaxar e rezar pela comunidade, além de pitar chanduca34, beber jurema35 e
trabalhar com ervas como o alecrim. Para rituais junto ao Grande Espírito, referiu
a importância de não beber e não fazer sexo. Towê compartilhou com riqueza de
detalhes, no formato de uma canção, uma das visões que já teve,
uma visão que não foi muito boa pro nosso mundo, eu vi o mundo
escurecer todo e eu via o meu povo morrendo, e o Grande Espírito
mostrou pra nós aonde tínhamos que curar e onde tínhamos que levar o
povo dele pra dar remédio e pra gente se curar. Então eu inverti a música
e pedi coisas boas pro nosso mundo pra não falar a palavra que não era
boa (Veríssimo, 2025, n.p.).
Visões semelhantes também se fizeram presente no encontro com Marta
Coy, que durante sua fala realizou um ritual com um altar que tinha diante de si,
com algumas velas na cor vermelha, preta, branca, amarelo, azul e verde,
acendendo uma a uma, invocando as energias do dia e dizendo o propósito de
cada cor.
Convidou os presentes a parar e respirar, para assim falar sobre a cultura
Maya e as tecnologias desenvolvidas pelos seus ancestrais, como a escritura, as
arquiteturas monumentais, os calendários precisos, os sistemas de numeração e
conhecimentos astronômicos, compartilhando as qualidades específicas do dia do
encontro segundo o calendário maia, o dia 1 Keme36, uma vez que
34 Cachimbo.
35 Bebida sagrada preparada com árvores do gênero Mimosa.
36 Associado aos ciclos de vida e morte.
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en nuestra cosmovisión maya es una energía positiva muy conocida como
la muerte, en ello tenemos nuestra comunicación con nuestras ancestras
y ancestros. La muerte no es mala, es el complemento de la vida. El
descanso de cada uno de nosotros cuando llega su momento. Es el día
para retirar las energías negativas en cada una de las personas (Coy, 2025,
n.p.).
Coy destacou também elementos da arte, da agricultura e da organização
social, falando sobre o manjericão, que é uma planta que a acompanha. Lembre-
se aqui que a cultura Maya existente na região da Mesoamérica, está presente hoje
nos territórios da Guatemala, um país da América Central que possui uma das
maiores populações indígenas do mundo, composto por povos Mayas, Xinkas e
Garífunas. Apesar da diversidade cultural, trata-se de um país extremamente
racista, característica cujos efeitos podem ser reconhecidos tanto na vida diária
quanto nas políticas públicas que marcam operações de poder e extermínio que
servem a setores privilegiados.
É no epicentro dessas disputas que Marta Coy atua como defensora de
direitos humanos, tendo como foco o cuidado de mulheres, sendo tradutora e
difusora da língua Maya Q’eqchi’. Segundo ela, “el sueño de las mujeres indígenas
es mantener la cultura y hablar la lengua a partir de la educación bilingüe en las
escuelas. No sustituir el tejido a mano por máquinas (cf. Coy, 2025, n.p.).
Encontros como os realizados com Milton Nache, Towê Fulni-ô e Marta Coy
oportunizaram o debate com relação a como os sonhos se apresentam para
diferentes povos indígenas da América Latina, buscando compartilhar como
determinadas dinâmicas sociais estabelecidas em seus contextos evidenciam
distintos modos de os sonhos afetarem as vidas dessas populações indígenas.
Considerações finais
O presente artigo é o primeiro texto articulado a partir das experiências do
Grupo de Estudos, elaborado após a realização de estudos teóricos, pesquisas de
campo e encontros práticos dedicados às experiências específicas dos sonhos
para diferentes povos indígenas da América Latina. Os apontamentos são ainda
iniciais, mas apresentam relevância e urgência de serem partilhados.
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Nesse sentido, nos interessa reconhecer os sonhos em uma perspectiva
ampliada, como um sistema diverso de conhecimento, que auxilia na construção
de diálogos com culturas de diferentes países, e estrutura espaços coletivos de
resistência, pois, assim como inspira a pesquisadora e artista colombiana Bárbara
Santos, “hay una falta de visión de nuestra cultura capitalista sobre las
interrelaciones que existen entre aquello que hay en el cielo y en el subsuelo, entre
el sueño y la vigilia, entre lo visible e invisible” (Santos, 2019, p.93).
Para que essas inter-relações pudessem ganhar mais espaço nas reflexões e
nos debates do grupo de estudos, ao longo dos encontros, através das
contribuições de Milton, Towê e Marta foram se evidenciando pequenos
agrupamentos que revelam especificidades de determinados sonhos. O que nos
levou à seguinte tripartição: “Sonhos Reais”, “Sonhos oníricos” e “Sonhos
comunitários”.
Sonhos Reais” agrupa os sonhos que apresentam imagens do cotidiano e que
são ferramentas influenciadoras da vida diária, acompanhando, como forma de
intuição, a pessoa em seu dia-a-dia. “Sonhos Oníricos” compreende os sonhos que
trazem ensinamentos conectados à criatividade, caracterizados por imagens que
vão compor os murais, as peças teatrais e os roteiros de cinema de Milton Nache
e as músicas de Towê Fulni-ô. Finalmente, “Sonhos Comunitários”, agrupa sonhos
que apresentam dimensões políticas e auxiliam na organização das
temporalidades e das decisões de seus territórios, como a importância do
calendário Maya para a interpretação e encaminhamento coletivo dos sonhos
conduzidos por Marta Coy.
Até o momento, os estudos geraram algumas conclusões importantes, a
serem mencionadas aqui, quanto ao poder orientador, criativo e político dos
sonhos. Os processos do povo Nasa ensinam a reconhecer a diversidade na
construção de espaços de autonomia e luta, utilizando o sonhar como uma
ferramenta de diálogo. Tais processos estão sempre lembrando e trazendo à
memória os ancestrais e os que vieram antes. Contar com um processo coletivo
e consensuado entre toda uma população para a construção de um processo
educativo tem seus desafios internos e externos, mas o mais importante é
reconhecer que é possível gerar estruturas concretas e espaços de diálogo a partir
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da espiritualidade e, neste caso, dos sonhos. Fortalecem-se, assim, perspectivas
para quais o ato de sonhar é uma prática coletiva que leva em consideração que
hay otras formas de habitar el territorio y abren un camino conjunto con
comunidades de científicos, artistas, médicos indígenas o no, para
sentarnos a reconfigurar nuevas formas de relación con el planeta, que
es nuestra casa, nuestro cuerpo, el cosmos (Santos, 2019, p.94).
Por fim, vale reconhecer, também, que os territórios do Cauca, gravemente
afetados pela guerra e pelo narcotráfico, evidenciam camadas de reflexão relativas
à importância da diversidade de estratégias de lutas e resistência. Nesse sentido,
as propostas futuras do Grupo de Estudos Sobre os Sonhos Para os Povos
Indígenas na América Latina apontam para a necessidade de desdobrar reflexões
a respeito dos sonhos como metodologia para a criação de espaços para
construção de justiça e paz em contextos como os do Cauca.
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Recebido em: 20/09/2025
Aprovado em: 11/11/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
Urdimento.ceart@udesc.br