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Ecossomática
: reflexões acerca de práticas ecológicas
ante os desafios socioambientais do Antropoceno
Cláudia Regina Garcia Millás
Para citar este artigo:
MILLÁS, Cláudia Regina Garcia. Ecossomática: reflexões
acerca de práticas ecológicas ante os desafios
socioambientais do Antropoceno. Urdimento Revista de
Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v.3, n.56, dez. 2025.
DOI: 10.5965/1414573103562025e0104
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Ecossomática: reflexões acerca de práticas ecológicas ante os desafios socioambientais do Antropoceno
Cláudia Regina Garcia Millás
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-26, dez. 2025
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Ecossomática: reflexões acerca de práticas ecológicas ante os desafios
socioambientais do Antropoceno1
Cláudia Regina Garcia Millás2
Resumo
Este ensaio propõe-se a refletir acerca da necessidade de se repensar os
currículos, abordagens metodológicas, planos de ensino e espaços de
formação nas artes corporais ante os desafios socioambientais presentes na
época que vivemos, o Antropoceno, trazendo para o debate a ecossomática:
conjunto de práticas ecológicas que visa a criação de pensamentos/ações
engajados e responsivos.
Palavras-chave: Antropoceno. Arte. Ecologia. Ensino. Somática.
Ecosomatics: reflections on ecological practices in the face of the socio-
environmental challenges of the Anthropocene
Abstract
This essay aims to reflect on the need to rethink curricula, methodological
approaches, teaching plans, and training spaces in the body arts in light of
the socio-environmental challenges present in the era we live in, the
Anthropocene, bringing ecosomatics into the debate: a set of ecological
practices that aims to create engaged and responsive thoughts/actions.
Keywords: Anthropocene. Art. Ecology. Teaching. Somatic.
Ecosomática: reflexiones sobre prácticas ecológicas ante los retos
socioambientales del Antropoceno
Resumen
Este ensayo se propone reflexionar sobre la necesidad de replantearse los
planes de estudio, los enfoques metodológicos, los planes de enseñanza y
los espacios de formación en las artes corporales ante los retos
socioambientales presentes en la época en que vivimos, el Antropoceno,
trayendo al debate la ecosomática: conjunto de prácticas ecológicas que visa
la creación de pensamientos/acciones comprometidos y receptivos.
Palabras clave: Antropoceno. Arte. Ecología. Enseñanza. Somática.
1 Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Leandro Silva de Oliveira. Mestrado em
Teoria e Crítica Literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Bacharel e licenciado em Letras
pela UNICAMP.
2 Pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutorado em Artes Cênicas pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRO). Mestrado em Artes da Cena pela UNICAMP.
Graduação Licenciatura e Bacharelado em Dança pela UNICAMP. Prof. Adjunta no Depto. de Arte Corporal
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). claudinhamillas@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/1442854711325339 https://orcid.org/0000-0002-5970-3195
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Bem-vindos aos Antropoceno!
Estamos vivendo em uma excepcionalidade do Sistema Terra na qual a
espécie humana, com sua lógica egocentrada decorrente, em grande parte, do
sistema econômico capitalista global que visa a exploração sem limites para
obtenção de lucro a qualquer custo - está inaugurando uma possível nova época
dentro da história geológica do planeta: o Antropoceno, termo sugerido
oficialmente por Paul Crutzen e Eugene Stoermer (2000). Esta seria, por esse viés,
uma época marcada pelas crescentes desigualdade social e degradação ambiental
e, na qual, o ecocídio forjado torna-se um verdadeiro suicídio e até mesmo um
genocídio, uma vez que é a própria existência da humanidade que está em xeque.
Importante destacar que o Antropoceno não foi considerado, formalmente,
como uma unidade geológica, segundo o Anthropoceno Working Group (AWG,
2024), corpo da Comissão Internacional de Estratigrafia, responsável por examinar
a proposta de Crutzen e Stoermer como uma possível unidade de tempo geológico
(crono-estratigráfico) e adição potencial à Escala de Tempo Geológico a partir de
conceitos da geologia. Contudo, o termo, atualmente informal, surge como uma
palavra científico-popular usada por cientistas, pelo público cientificamente
engajado e pela mídia para designar o período da história da Terra durante o qual
os seres humanos têm uma influência decisiva sobre o estado, a dinâmica e o
futuro do Sistema Terra. Tendo provado ser altamente útil para as comunidades
de pesquisa científica das mudanças globais e do Sistema Terra, o termo, portanto,
deve continuar a ser usado.
O Antropoceno marca o colapso socioambiental que vivemos, fruto das ações
antrópicas como: emissão de gases de efeito estufa na atmosfera a partir da
queima de combustíveis fósseis e atividades agropecuárias; produção desenfreada
de lixo; poluição das águas, do ar e do solo; extinção de espécies; introdução de
novas entidades na natureza; incentivo de formas agressivas de cultivo que
transformam paisagens em locais empobrecidos com sua ordem monocromática;
e avanço das desigualdades sociais, aumentando a precariedade de vida das
minorias.
Desde a década de 60, cientistas como Rachel Carson (1969) alertam-nos
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para os riscos crescentes à saúde humana e de outras espécies com relação ao
uso de substâncias químicas sintetizadas como os pesticidas (inseticidas,
fungicidas e herbicidas). O último relatório produzido pelo Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2023) afirma que é inequívoco
o fator antrópico para as graves e preocupantes transformações, sendo consenso
entre os cientistas de todo o mundo que as mudanças recentes no clima são
generalizadas, rápidas, intensificadas e sem precedentes em pelo menos 6.500
anos. Os diversos especialistas que compõem o Painel são enfáticos em
mencionar que, a menos que haja reduções imediatas e em grande escala nas
emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1,5°C pode ser
impossível, o que já traz diversos impactos nas vidas do planeta, com aumento de
eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes e concentradas,
e secas mais severas e frequentes. Ademais, segundo Kolbert (2015), somos
responsáveis pela sexta extinção em massa do planeta, já em curso, contribuindo
para a perda de uma rica biodiversidade ao impormos nosso modo de vida e nos
alastrarmos por todo o globo terrestre.
Não obstante, o Antropoceno também marca a desigualdade dos impactos:
uma pequena parcela da população humana mundial, que concentra a maior
quantidade de riquezas, é a principal responsável pelo atual cenário. No entanto,
quem sofrerá primeiro e de forma mais direta esses impactos será a parcela mais
pobre, que menos contribuiu para que os estragos fossem feitos.
Vale ainda destacar que diversos autores ampliam a discussão e propõem
diferentes termos para denominar esta época, uma vez que entendem que o
termo Antropoceno poderia trazer uma leitura equivocada da realidade,
generalizando a ideia de humanidade, independente de contexto histórico, social,
político e cultural, como se todos os seres humanos fossem iguais, agissem da
mesma forma e tivessem o mesmo nível de impacto sobre o Sistema Terra.
Destacam-se entre as propostas de nomeação da atualidade: Capitaloceno, de
Jason Moore (2022) abraçado por outros pesquisadores; Piroceno de Stephen Pyne
(2023); Plantationceno, que emergiu de discussões entre antropólogos (Haraway
et. al, 2016); Tecnoceno de Flávia Costa (2021); e Chthuluceno de Donna Haraway
(2023).
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Como aponta Donna Haraway (2015), talvez sejam necessários múltiplos
nomes que evidenciem diferentes aspectos das fraturas ecológico-sociais
presentes, para que possamos ter uma dimensão mais complexa da realidade.
Note-se, como exemplo, que o termo Capitaloceno coaduna com discussões
correntes que trazem o capitalismo enquanto cerne dos problemas
socioambientais. Isabelle Stengers (2015), identifica o capitalismo como uma
máquina com poder de captura de nossas vidas, práticas e realidades, impondo a
nível planetário um “desenvolvimento” que é cego às suas consequências, a não
ser aquelas que podem acarretar mais lucro para poucas pessoas. Ailton Krenak
nos lembra que “o capitalismo quer um mundo triste e monótono em que
operamos como robôs” (Krenak, 2022, p. 38). E Luiz Marques (2018), entende o
capitalismo globalizado como uma economia da destruição, o ápice do colapso
ambiental em que vivemos.
De igual importância são as discussões apresentadas por Marques (2023) em
O decênio decisivo: propostas para uma política de sobrevivência que, de forma
minuciosa e com rigor científico, discorre sobre a urgência em agirmos de forma
lúcida ainda nesta década de 2020. Conforme enfatiza esse autor, “à humanidade,
não resta alternativa senão se insurgir contra o fracasso iminente de seu potencial
e contra a ameaça crescente de sua própria extinção, e é nessa falta de alternativa
que reside, paradoxalmente, a força dessa insurgência” (Marques, 2023, p. 460).
Assim, o que estamos vivendo não se trata de uma crise passageira, mas uma
emergência e, portanto, como aponta Ian Angus, “dar respostas ao Antropoceno
deve ser uma parte central de nossos programas, teorias e atividades no século
XXI” (Angus, 2023, p. 24).
Os assuntos relacionados aos desafios socioambientais que estamos vivendo
não podem ser exclusividade de especialistas, como biólogos, ecólogos, geólogos
ou físicos do clima, mas de toda a humanidade. Essas questões precisam ser
tratadas com prioridade em nossas vidas. Por sua magnitude e importância,
devíamos todos estar estudando, discutindo e buscando alternativas para superá-
las.
Diante deste cenário, no contexto da educação brasileira, podemos
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questionar: continuamos com a mesma formação, com a mesma finalidade e da
mesma forma? Que educação seria necessária face à problemática atual em que
vivemos um colapso socioambiental? Como trabalhar para a formação enquanto
prática libertadora, que potencializa os corpos, concebendo e alimentando a
diversidade de formas de expressão, sem que se torne uma prática que dociliza
os corpos, fazendo com que percam o poder de ação e reflexão?
Talvez, o que precisamos formar seja, então, pessoas que tenham capacidade
de refletir e intervir na realidade, dispostas a criar outros modos de
agir/pensar/sentir o mundo, com proposições para enfrentar os desafios do nosso
século (ou mesmo década, pois estamos falando de ações aceleradas) e não
pessoas assujeitadas, que simplesmente reproduzam padrões, adentrando no
sistema pré-estabelecido, corroborando para a perpetuação dos problemas
mencionados ou, pior, intensificando-os.
No contexto da educação brasileira, vale ressaltar duas leis que tangem a
questão ambiental. A primeira delas, a lei 9.795 de 27 de abril de 1999, no artigo
segundo, elucida que a educação ambiental deve ser compreendida como “um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo
educativo, em caráter formal e não-formal” (Brasil, 1999). Neste sentido, a lei
n.14.926 de 17 de julho de 2024, que altera a primeira, versa sobre a política
nacional de educação ambiental, destacando no quarto parágrafo do décimo artigo
que:
será assegurada a inserção de temas relacionados às mudanças do clima,
a proteção da biodiversidade, aos riscos e emergências socioambientais
e outros aspectos referentes à questão ambiental nos projetos
institucionais e pedagógicos de educação básica e da educação superior,
conforme diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação,
no uso de suas atribuições legais (Brasil, 2024).
Sendo assim, desde 2024, temos assegurado por lei que as questões
ambientais devem estar presentes na educação, desde o nível básico até o
superior, de forma transversal a todas as áreas e campos do saber.
O que nos interessa refletir, neste ensaio, é sobre como essas questões
podem estar presentes quando tratamos do ensino das artes corporais em
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escolas, universidades ou espaços informais. Para tanto, este texto, de forma
ensaística, não se propõe a apresentar propostas concretas com soluções para o
problema, mas sim, reflexões e problematizações que busquem despertar, em
cada docente, a tentativa de trilhar um percurso pedagógico singular, levando em
consideração cada contexto de atuação. Nesse sentido, as proposições aqui
presentes são fruto de reflexões e anseios, enquanto dimensão teórica do
problema socioambiental, valendo-se, principalmente, da ecossomática enquanto
conjunto de práticas ecológicas que visa a criação de pensamentos/ações
engajados e responsivos.
Educação Somática
No campo do ensino da dança e do teatro, muitas vezes, trabalha-se com
uma perspectiva somática na qual se valorizam ações baseadas na percepção de
si, a partir do desenvolvimento de uma consciência corporal.
Thomas Hanna (1990, 1991, 2004) criador do termo educação somática,
desenvolve a diferença entre corpo e soma. Elucida que o corpo seria aquele visto
de fora, por outra pessoa. o segundo termo, se refere a estrutura vista pela
primeira pessoa, por meio de seus sentidos proprioceptivos. Segundo o autor, o
soma envolve autoconhecimento e a percepção íntima de si mesmo. Assim, como
assume Hanna (1990): um ponto de vista de fora pode observar um corpo
humano e um ponto de vista de dentro pode observar um soma humano, isto
é, o seu próprio corpo. Neste sentido, soma e corpo seriam iguais enquanto valor,
mas distintos enquanto fenômenos observados.
A fim de evitar possíveis equívocos, cumpre-nos ressaltar a diferença entre a
palavra ‘soma’ de origem latina, summus, ligada semanticamente à adição no
contexto matemático, da outra palavra de origem grega, sôma, que está
relacionada com o corpo de forma mais ampla. Conforme explicita Fortin (2011,
p.28): “o soma, o corpo vivo no seu conjunto, não pode ser reduzido à soma de
seus componentes corpóreos, cognitivos, sociais, emotivos ou espirituais”.
Segundo Hanna (1990, 1991, 2004), somática seria, então, um campo de
estudo que lida com o fenômeno somático do ser humano quando experimentado
por ele mesmo a partir de seu interior. Neste sentido, o ser que se auto observa
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não é passivo, mas age sobre si mesmo e está envolvido em seu processo de
autorregulação.
Na educação somática, entende-se que não é possível agir sem sentir e vice-
versa. O sistema sensório-motor é o guia do trabalho. Entende-se que sentir o que
está acontecendo consigo mesmo seria agir sobre si mesmo, realizando um
processo de autorregulação, que garantiria a existência da estrutura corporal
externa.
Assim, os dados somáticos obtidos nestes estudos não precisariam ser
mediados e interpretados por meio de um conjunto de leis universais para se
tornarem factuais. Seriam, necessariamente, singulares e diversos, verdadeiros
para cada pessoa que os observa.
Poderiam ser consideradas abordagens de educação somática desenvolvidas
ao longo do século XX: a Eutonia criada pela alemã Gerda Alexander em meados
do século passado; as práticas desenvolvidas por Elsa Gindler, também na
Alemanha na primeira metade do século; a Técnica Alexander desenvolvida ao
longo das primeiras décadas do século XX pelo australiano Matthias Alexander; o
Método Feldenkrais criado a partir de 1940 pelo ucraniano israelense Moshé
Feldenkrais; o Body-Mind-Centering (BMC) fundado na segunda metade do século
XX pela norte americana Bonnie Bainbridge Cohen; o Rolfing, desenvolvido ao longo
de décadas pela norte americana Ilda Rolf até culminar no método em 1950; o
método de Cadeias Musculares e Articulares GDS da congo-belga Godelieve
Denys-Struyf criado entre 1960 e 70; e, no caso brasileiro, as práticas desenvolvidas
por Klauss Vianna desde a década de 50 e por Angel Vianna, que resultaram na
criação de uma metodologia e escola de formação própria.
Fortin (2011) compreende a educação somática como práxis, uma prática
reflexiva e crítica, que transcende conceitos. Segundo a autora: “a educação
somática é um verdadeiro laboratório de percepções” e as tomadas de consciência
“não resultam somente em uma reorganização dos músculos profundos e
superficiais do corpo, mas num novo modo de estar presente no mundo e numa
nova perspectiva acerca desse mundo” (Fortin, 2011, p.33).
A autora acredita que, apesar de termos hábitos ancorados e resistentes à
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mudança, a partir dos trabalhos persistentes advindos da via somática, podemos,
aos poucos, adquirir novos comportamentos e pensamentos. Ressalta que “para
o educador somático, convém despertar nos jovens artistas tanto o saber-sentir
como o saber-agir” (Fortin, 2011, p.37). Sylvie Fortin questiona também como
podemos passar de uma egossomática para uma ecossomática: “acredito que
uma prática de consciência sobre si pode ajudar numa transformação dinâmica
relacional com nosso entorno” (Fortin, 2011, p.37).
Assim, com a problemática do Antropoceno colocada nos tempos em que
vivemos, alguns autores começaram a considerar a necessidade de se trabalhar o
ensino de artes corporais, assumidamente, por meio de uma abordagem ecológica,
em que a somática esteja vinculada.
Nessa perspectiva, objetiva-se que o trabalho de Educação Somática seja o
de construir uma consciência de si que não esteja destacada da consciência do
outro e do meio em que se vive, visto que as práticas com abordagem somática
teriam o entendimento de um corpo indissociável do meio ambiente. Em resposta
às degradações ambientais, tais práticas apresentariam possibilidades de um
pensar/fazer/sentir ocupado com o mundo que se vive, como sugere Sylvie Fortin
(2011) a partir do termo ecocentrado para uma prática engajada.
Surge, então, a ecossomática3 como proposta de trabalho que tem como
objetivo explícito a relação da somática com a ecologia. Nessa perspectiva, vale
lembrar, como ressalta Latour, que “a ecologia não é o nome de um partido, nem
um tipo de preocupação, mas sim um apelo para mudarmos de direção: ‘Rumo ao
Terrestre’” (Latour, 2020b, p. 73).
Ecossomática
Joanne Clavel e Isabelle Ginot (2015), observam que, apesar da fenomenologia
de Merleau-Ponty dar ênfase na continuidade entre o eu e o mundo, este considera
esta relação apenas da perspectiva dos humanos. De forma similar, a Ecologia
Perceptiva iniciada por James J. Gibson, que conceitua affordance como uma ação
3 Ecossomática é uma tradução livre do termo em francês “écosomatiques” (Bardet, Clavel, Ginot,
2024) e do termo em inglês “ecosomatic” (Nelson, 2018).
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oferecida pelo meio, não estende a interação com outros reinos, para além do
animal, por julgar que plantas, por exemplo, são inanimadas.
Clavel e Ginot (2015) pensam que, muitas vezes, as interações pretendidas
estabelecem uma relação utilitarista, em que somente um agente se favorece, no
caso o ser humano. As autoras consideram que se exclui do que possa vir a ser o
outro, em nossa dimensão de alteridade, tudo aquilo que não é humano: “O ponto
de vista da Ecologia impõe a seguinte pergunta: além dos interesses diretos
pessoais ou sociais que se podem tirar das interações sociais, em que medida se
pode abrir o nós da interação aos não humanos?” (Clavel; Ginot, 2015, p. 89).
Assim, essas autoras questionam sobre o valor intrínseco dos seres não
humanos, fora aquele valor atribuído por nós. A abordagem ética da Somática,
poderia então se pautar em uma perspectiva ecocêntrica, em que para além da
consciência de si, não destacada da consciência do meio, também possa se pensar
numa consciência do outro, como aquilo que não somos nós. Para tanto, seria
necessário descentrar a perspectiva de si, como único, universal ou mais
importante na supremacia antropocêntrica, para nos vermos como parte
pertencente de uma comunidade biótica maior na qual a interação pode acontecer
de forma dinâmica.
Nesse ponto, encontra-se a ecosofia de Félix Guattari (2012), quando nos
incita a pensar em três registros ecológicos: da subjetividade humana, das relações
sociais e do meio ambiente. Sendo assim, o trabalho de formação nas artes
corporais a partir de uma abordagem (eco)somática, poderia ampliar a sensação
de conexão do participante numa tríplice esfera, ou seja: consigo mesmo, com o
outro (para além do humano) e com o mundo que se vive, zelando pelo resgate
da sensação de pertencimento ao meio.
No entanto, cabe nessa discussão, a importante contestação de Povinelli
(2023) da separação que costumamos fazer entre os vivos e os não vivos, quando
consideramos o Outro somente os seres e não as estruturas e elementos que
compõe a Terra. A autora conclama:
Se eles têm parte, que tomem parte. Deixemos que falem! O animal não
humano, a pedra, o rio, a praia, o vento e o solo: que sejam escutados,
que sejam representados e representáveis na governança da terra. Eles
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também possuem linguagem. Eles também são agentes (Povinelli, 2023,
p. 209).
Povinelli (2023) nos convida a percebermos as diferentes formas de
existência. E, para isso, estender nosso entendimento para além dos seres vivos,
a todas as formas de existência do planeta: vento, montanha, rio, pedra, mar,
geleira, oceano. Para essa autora e para diversos povos ancestrais, todas essas
entidades são existências de direito. Mas como dar voz a elas? Como conseguir
escutá-las? Como percebê-las?
Neste sentido, o interessante exercício de alteridade proposto por Latour
(1994), O parlamento das coisas, poderia ser uma maneira de começarmos a
brincar com essas vozes e escutas, ampliando nosso referencial, em busca de
uma possível justiça na governança global, para que outras existências tenham seu
direito assegurado ou, pelo menos, representado.
Se os rios falam (Krenak, 2020), as montanhas escutam (Povinelli, 2023), e as
florestas pensam (Kohn, 2021), precisamos aumentar nosso repertório léxico,
ampliar nossa escuta e nos propormos a considerá-los. Ademais, dentro da
discussão trazida no campo da ecossomática, seria necessário levar em conta a
diversidade de seres humanos, com suas diferentes culturas, crenças, histórias,
corpos... para não dizer de condições econômicas e sociais.
Clavel e Ginot (2015) questionam, dentro da educação somática, a
naturalização e universalização de um tipo de corpo dentre os seres humanos, o
da elite economicamente hegemônica, como acontece na história social. Nesse
contexto, as autoras admitem que existem padrões corporais impostos como
referência: homem, branco, cis, heterossexual, rico, europeu ou norte americano.
Assim, levar em consideração a diversidade de corpos, histórias e contextos
na somática, seria tomar uma posição política crítica com relação aos mercados
e à economia do cuidado, da estética e da arte. Seria necessário tomar consciência
do eu e do não-eu, ou seja, tomar consciência dos outros seres humanos que
existem para além de mim e também dos outros seres, que existem para além de
nós, e outras existências para além dos seres vivos.
Também Giorgio (2015) discursa sobre a necessidade de produzirmos
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conhecimento situado dentro do campo das somáticas. A autora questiona que,
por trás de um discurso singular de cada corporeidade, a maioria dos métodos
somáticos tem como referência um corpo homogêneo universal, a-histórico e
ocidental.
Como visto anteriormente, a maioria das abordagens somáticas teria sido
criada na Europa e nos Estados Unidos, dentro de contextos bastante específicos.
Assim, Bardet, Clavel e Ginot (2024), corroboram com a necessidade de uma
abordagem situada nos territórios de vida e locais de trabalho. Nesse sentido, a
ecossomática questionaria o significado político das práticas somáticas em sua
dimensão social, ética e ambiental. Essa abordagem teria o potencial de
autoinvenção e de invenção do mundo em termos de transformação
socioambiental. Portanto, as autoras julgam que práticas somáticas e perspectivas
ecológicas precisam ser pensadas em conjunto a partir de metodologias teóricas
e práticas.
Ademais, a proposição de uma abordagem ecossomática justificar-se-ia pela
necessidade de nos percebermos em reciprocidade dinâmica e contínua com o
ambiente, mas, também, de nos percebermos como um ecossistema, um
ambiente em que compartilhamos e somos feitos de muitos outros seres, não-
humanos, que nos compõe e com os quais interagimos dinamicamente.
Clavel e Ginot (2015) lembram-nos de que somos um ser, mas, igualmente,
somos um meio no qual vivem diversos outros seres: “trata-se de pensar o exterior
e o interior como um continuum de interação” (Clavel; Ginot, 2015, p. 97). Percebe-
se a necessidade de colocar foco na relação do sujeito com o meio, quando um é
afetado pelo outro; de pensar em como e quanto cada um de nós afeta o meio
em que vive; e de entender a percepção como troca entre o sujeito e o meio
ambiente, reforçada pela ideia de Merleau-Ponty de que existe uma continuidade
entre o eu e o mundo. Assim, podemos considerar que experimentamos o mundo
e interagimos com ele a todo momento.
Sendo assim, Clavel e Ginot (2015) concordam com Sylvie Fortin de que a
somática precisaria se pautar em uma lógica ecocentrada, que não se limita na
percepção de si, mas percebe os outros e o espaço em que se vive.
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Reforçam este discurso Bardet, Clavel e Ginot (2024), ao afirmar que “as
práticas somáticas não buscam modelar um corpo de acordo com um esquema
predefinido, mas sim modular as relações com o contexto, consigo mesmo e com
os outros” (Bardet; Clavel; Ginot, 2024, p. 10). Neste sentido, reiteram que a questão
relacional não seria a polarização entre dois termos, como corpo-mente, mas
como interação entre eles, ou um tipo de fusão. Assim, o aspecto relacional
contaria mais do que os próprios elementos. O corpo seria composto por diversas
formas de relacionamento.
As autoras acreditam que, fundamentalmente, a definição de Thomas Hanna
para a somática seria a arte e a ciência dos processos de interação sinérgica entre
a consciência, o funcionamento biológico e o ambiente. No entanto, percebem
que, geralmente, essa interação está menos explícita nessas práticas quando se
trata da relação do indivíduo com o meio ambiente do que com a
indissociabilidade entre corpo, mente, pensamento etc. Por isso, o uso do termo
ecossomática poderia trazer o entendimento desta relação mais explícita entre
somática e ecologia, entre o ser e o mundo em que vive (e o modo como vive).
Para a autora Nala Walla (2016), a chave para a restauração ecológica seria a
reconexão com a Terra. A autora considera que, para muitas pessoas, isso seria
deixar os centros urbanos e retornar para o meio rural, como parte de uma, ainda
pequena, mas possível reversão demográfica. No entanto, acredita que ainda
podemos observar movimentos de reconexão no próprio meio urbano, como, por
exemplo, com ações de coletivos para o cultivo de hortas, fortalecimento da
educação e da cultura.
Walla (2016) julga ainda ser bastante forte a ideia de que trabalhar com a terra
seja considerado algo desprezível para as sociedades ocidentais modernas, nas
quais as pessoas são motivadas a estudar para sair do campo e prosperar na
cidade, pois considera-se que colocar a mão na terra, envolvendo diferentes
técnicas e formas de cultivo, não necessitaria de estudo, por ser um trabalho
braçal e, assim, desvalorizado.
Essa autora (Walla, 2009) propõe que, ao pensarmos o corpo como um
território, nossa primeira casa, que necessitamos conhecer, ligar-nos-íamos com
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a Terra diretamente pela carne. Assim, a autora julga que as artes corporais
poderiam auxiliar-nos nesta (re)conexão, por meio de práticas ecossomáticas que
permitem conhecer a si mesmo, observar-se, para, então, observar aos outros e
ao espaço em que se vive.
Ainda Walla (2010) considera que a prática da ecossomática pode curar uma
possível separação entre mente, corpo e terra, ao incentivar a percepção sensorial
direta do próprio corpo, tanto por ser um ambiente natural, como por viver em um
ambiente natural. Para a autora, perceber as analogias entre os padrões da
natureza e os que sentimos no nosso próprio corpo, pode nos ajudar a criar um
pensamento ecológico eficaz.
Neste sentido, Matthew Nelson (2018) trata de uma possível ecologia
incorporada a partir da ecossomática e da permacultura, justificando que a
permacultura é, para a ecologia, o que a somática é para a cinesiologia, a psicologia
e a fenomenologia.
Nelson (2018) considera que somos organismos vivos pertencentes a um
sistema igualmente vivo e complexo. Por meio do cuidado, tanto a permacultura
quanto a somática, dispõem-se a conhecer e interagir com o ambiente. Entre
esses dois campos, percebe que existem convergências como a presença da:
resiliência, enquanto capacidade de um sistema sobreviver e persistir em um
ambiente adverso; diversidade, como forma de adaptabilidade; eficiência, na
otimização do movimento, sem gastar energia desnecessariamente ou “produzir
desperdício”; e observação contínua como forma de criação e interação.
Para Walla (2009), embora o termo ecossomática tenha surgido dentro de
uma linguagem científica construída pelo ser humano moderno, com uma visão
racional de mundo, o conceito embutido é tão antigo quanto a própria
humanidade, além de ser compreendido e praticado pelas culturas indígenas
ancestrais centenas de anos. Nesse sentido, a autora considera a ecossomática
como uma tecnologia leve, que depende apenas de nossos recursos internos, de
dentro de nós mesmos, como uma estratégia de sobrevivência inteligente. Seria
um movimento de regressar à casa, ao nosso próprio corpo, como uma forma de
enraizar na Terra com nossa carne: habitar o corpo, o território, o tempo.
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Cláudia Regina Garcia Millás
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A partir da relação entre dança e trabalho, conforme Walla (2009) explicita,
práticas somáticas do oriente como a Yoga teriam surgido para sintonizar corpo-
mente com as tarefas do dia a dia, como agachar e levantar para construir e
manter uma casa, erguer os braços para colher alimentos, carregar peso para
transportar água, cavar um buraco para cultivar determinada planta e assim por
diante, sem prejudicar as costas, a coluna ou os joelhos. Para a autora, esses
exemplos seriam a relação intrínseca entre dança e trabalho, arte e vida.
Ademais, como cidades e áreas de plantio não se constroem sozinhos, Walla
(2009) percebe que para criar habitats ecológicos, devemos nos libertar dos
estigmas e preconceitos associados ao trabalho manual e cultivo da terra, para
dar as boas-vindas ao suor provindo do esforço físico. A autora acredita que
precisamos nos colocar em ação, para plantar, semear, cuidar e construir, sem
delegar o “trabalho sujo” para outras pessoas. Assim, a autora conclui que somente
corpos e comunidades saudáveis, trabalhando em cooperação, poderiam alcançar
a vitalidade desejada.
Como benefício da ecossomática, Walla (2009) alega que nos últimos anos
ela tem facilitado muitos projetos de trabalho na terra e de construção que
integram a dança, a canção, o trabalho corporal, o descanso e a brincadeira no
local de trabalho, com resultados que são simultaneamente estimulantes e
divertidos.
Reflexões e proposições
E se, ao invés de ficarmos em nossas salas de aula estéreis, dedetizadas,
limpas, com pisos de madeira envernizada, fechadas por quatro paredes,
equipadas com ar condicionado e luz elétrica, nós fôssemos para uma rua, uma
praça, bosque ou mata, desenvolver uma aula ou trabalho corporal, em
convivência com outros modos de existência?
Imagine uma prática corporal que, em lugar de termos como única referência
nossos iguais de espécie, e muitas vezes iguais de cultura, classe social e raça, nós
pudéssemos ver os Outros, diferentes de nós enquanto estrutura corporal, modo
de comunicação, sensibilidade e inteligência? De que maneira poderíamos ser
guiados e atravessados também por estes Outros, humanos e mais que
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humanos4?
Como seria, ao longo de uma atividade, poder ver um grilo saltitar ao seu lado
ou uma abelha voar ou uma formiga carregadeira trabalhar, sem ter como primeiro
ímpeto a ação de tentar matá-los?
O que mudaria em nossos corpos e pensamentos, e em nosso modo de
observar o mundo, se, ao longo de uma prática corporal, quando olhamos para
cima, não víssemos um teto, mas o céu composto com suas nuvens, pássaros e
insetos? Ao virarmos para o chão, entrássemos em contato com os diversos
pequenos seres que transitam? Se pudéssemos escutar as formigas abrindo suas
carreiras na mata? Se, à nossa frente, tivesse uma árvore, com todo seu universo
de seres? Se nos colocássemos a sentir os cheiros, as texturas e as variação da
luz do sol?
Se passarmos a conhecer o que são estes Outros - seres, elementos e
estruturas da Terra, diferentes de nós humanos - se passarmos a ter consciência
de suas existências, talvez, deixando de ignorá-los, não os pisotearemos, ou,
deixando de nos sentir ameaçados por eles, não os ameaçaremos, ou ainda, com
alguma intimidade, não os veremos mais como recursos naturais e, por isso, não
os devoraremos. Assim, poderemos compartilhar os mesmos espaços, e, o mais
importante, consentiremos os seus direitos de existência. Nesse sentido,
compartilhamos mais uma vez Latour (2020b, p.25):
no fim das contas, a única coisa que interessa não é saber se a pessoa é
contra ou a favor da globalização, contra ou a favor do local, mas sim
entender se ela consegue registrar, manter, respeitar o maior número de
possibilidades de pertencimento ao mundo.
Para tanto, como primeiro passo para uma transformação ecossocial urgente
e necessária, acreditamos ser preciso entrar em contato com o problema, ter
dimensão do que nos assola e saber quais são os riscos e consequências. Não
podemos mais ignorar, por exemplo, as mudanças climáticas em curso.
Precisamos colocá-las como ponto de pauta em nossas reuniões, conversas e
debates, mas principalmente nas escolas, nos centros de formação e
4 Termo cunhado por David Abram em seu livro The Spell of the Sensuous: Perception and Language in a
More-Than-Human World.
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universidades. Esses assuntos têm que ser tratados por todas as áreas e em todos
os níveis de formação.
Será necessário colocar em prática projetos transdisciplinares, com
profissionais de diferentes áreas, para que possamos integrar os conhecimentos e
criar uma rede mais complexa de percepção do problema: entender o que está
acontecendo, como cada fenômeno se dá, quais as causas e consequências e de
maneira poderemos enfrentá-los.
Propomos começar com práticas situadas, que buscam mapear o próprio
território onde cada um habita, e, a partir daí, direcionar o movimento do
conhecimento pelos temas que se apresentem, abrindo espaço para novas
perguntas.
Poderiam ser consideradas práticas ecossomáticas a proposição de ações
cartográficas sensíveis, como o caminhar sem paradeiro (vaguear) pelo bairro ou
região onde vive, abrindo-se para encontros fortuitos que não são possíveis no dia
a dia corrido, buscando mapear os locais por onde percorreu e existências com
quem encontrou.
Ao longo dessa trajetória seria interessante: propor-se a permanecer
desconectado (offline), sem intermediação de máquinas, ao longo das ações, para
que o próprio corpo seja o guia; observar de diferentes maneiras diferentes coisas
e por diferentes pontos de vista; mapear também o movimento das nuvens;
caminhar descalço e de olhos fechados em diferentes chãos; experimentar outros
modos de ver, tateando e tocando o espaço; sentir a luz, os cheiros, os sons, as
cores, texturas, formas, pulsões, ânimos; colocar-se em estado ativo de recepção.
Podemos buscar acompanhar e mapear também alguns percursos, seja da
água que chega limpa na torneira de nossa casa e sai suja pelo ralo, ou mesmo do
alimento que compramos no supermercado e o lixo que colocamos na rua,
sempre buscando responder as questões norteadoras do percurso: de onde vem
e para onde vai?
Não obstante, dentro dessa cartografia sensível, podemos investigar algum
ser mais que humano e não doméstico por longo período (semanas, meses ou
ano), para que o estranho se torne um pouco mais familiar e desejável.
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Sobre estas ações, quais histórias poderiam ser contadas? Seria possível dar
voz aos outros seres, elementos e estruturas que cada cartógrafo encontrou?
Como essas outras existências falariam e o que contariam sobre nós, humanos?
Se pegarmos o caso específico da ação de acompanhar o percurso de um
rio, o mais próximo da casa de cada praticante, por exemplo, como lhe apresentar?
Qual nome, origem e destino? De onde vem e para onde vai? Como é, qual cor,
cheiro, tamanho? Quais memórias, histórias e desejos tem esse rio?
Podemos criar outras narrativas sobre essas existências, dando-lhes o direito
de também falar e nos contar as suas histórias. Nesse sentido, como exposto,
o Parlamento das Coisas proposto por Bruno Latour (1994), poderia nos servir de
referência e inspiração para a criação de jogos de alteridade que brincassem com
as identidades e buscassem colocar outras vozes e pontos de vista nas narrativas
circundantes.
Esse jogo de criação poderia ter como pano de fundo um encontro entre
diferentes agentes, que pode ser desde uma roda de conversa informal até um
evento para tratar de negociações. Todos os participantes do encontro falariam
sobre o mesmo assunto, mas a partir de sua própria perspectiva, defendendo as
suas ideias e interesses. Se o tema do debate fosse mineração, por exemplo,
poderiam ser chamados para falar: a montanha que está sendo fatiada e devorada
pelas máquinas; o geólogo especialista no tema que desenvolve o projeto de
mineração; o representante do Estado onde acontece a ação; o dono da empresa
mineradora que lucra com o negócio; os mineradores que trabalham na obra; o rio
que recebe os rejeitos e se encontra em coma; e os moradores locais da região
onde acontece a ação, desde humanos até plantas, animais, fungos e bactérias.
Cada participante do debate será representado por uma pessoa que irá participar
do jogo. Essa pessoa tentará dar voz à existência que representa, trazendo o
máximo possível de conhecimento sobre ela.
No caso do representante da montanha, como falar a partir deste lugar?
Como escutar a montanha, entrar em contato com suas histórias? Como conhecê-
la para além de sua composição formal? Como se colocar em estado de escuta,
atenção e cuidado nestas ações de observação e mapeamento, para que seja
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possível ver ao Outro que se apresenta a nós? Como observar e se “vestir” desse
Outro?
O cuidado, como veremos, será uma chave para o processo de lidar com os
diversos problemas do Antropoceno, que não é de uma pessoa, mas planetário.
Não se trata de responsabilização individual, de como uma pessoa age, mas de
como vamos agir enquanto sociedade. Latour (2020a) nos fala da necessidade de
criarmos um percurso de cuidados, como um caminho a ser trilhado, o que implica
na ação de desacelerar, saindo de uma lógica automática de resposta, para
adentrar num movimento que necessita de escuta e sensibilidade. Agir com senso
de urgência não é o mesmo que agir com pressa ou afobação. Urgência não tem
a ver com velocidade, mas com prioridade de ação. Assim, necessitamos aumentar
nossa capacidade de observação atenta, desarmando os modos viciados de
produtividade acelerada do capitalismo, enquanto sistema econômico global.
Nesse sentido, diversas práticas (eco)somáticas podem ser acionadas para
tal finalidade de ativar um corpo sensível, que consiga perceber o tempo de outra
maneira, se colocando presente na ação. Para pensarmos sobre isso traremos
como exemplo o estudo desenvolvido por Millás (2020) na perspectiva da escalada
em ambiente natural enquanto prática ecológica:
Viver a escalada com sua prática vertiginosa e de encantamento,
arriscada e não habitual, em que o praticante se envolve por inteiro, sem
medir esforços, numa concentração plena que une corpo e mente no
momento presente, sentindo-se mais desperto e com os sentidos
aguçados, permitiu pensar a atividade como uma possibilidade de
emancipação, enquanto potência de transformação, e a construção de
uma postura ecológica por meio da sensação de conexão numa tríplice
vertente: consigo, com o outro e com o mundo (Millás, 2020, p.18).
A autora propõe o termo corpo-em-fluxo como uma qualidade corporal
específica em que o praticante ultrapassa a si mesmo, em processo de
diferenciação e integração, sentindo-se como parte do meio em que vive. Com
essa qualidade, Millás (2020) comenta que ao chegar na base da montanha, seria
possível sentir que não se trata de uma estrutura inerte, sem vida, mas que pulsa
imponente, como uma entidade que se apresenta:
depois de se caminhar por trilha em relevo inclinado e sinuoso, mas
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ainda na condição pede, até chegar à rocha, a primeira sensação que
se pode ter é a de pausa. Trata-se de uma pausa de contemplação, como
uma parada que antecede a prática em si, se pensar no movimento de
subida vertical. A rocha surge majestosa. Como o início de um respiro,
lento e profundo, percebe-se que algo se transforma. Poder-se-ia dizer
que é o início do estado de fluxo que se instaura (Millás, 2020, p.6).
ao escalar, quando o corpo está lúcido, engajado e interessado na ação,
lidando com o equilíbrio sutil entre a segurança e o risco, que exige concentração
plena, sem gasto de energia psíquica com qualquer distração, seria possível sentir-
se integrado na paisagem à medida que se move. A pele se tornaria extensível. A
cada toque o escalador se tornaria um pouco mais rocha e poderia se
metamorfosear com o mundo. Ao final da prática, poderia se sentir mais integrado
com o próprio ambiente:
Seu corpo se integra à paisagem na medida em que se move e, nesse
movimento de suor e resistência, torna-se um pouco mais rocha, árvore
e vento, aumentando de tamanho, ficando na proporção do mundo.
Torna-se extensão do mundo (Millás, 2020, p. 7).
Para além da prática de escalada em rocha, com outras cosmovisões, como
as indígenas brasileiras, podemos aprender também a escutar as montanhas,
entender que não se tratam de um conjunto de minerais, como recursos naturais
a serem explorados pelos seres humanos, mas entidades, que podemos e
devemos contemplar, respeitar e coabitar. Que um rio não é um recurso hídrico,
mas uma existência que fala e que precisamos escutar. Que uma floresta não é
riqueza da humanidade, mas uma composição diversa, que produz pensamento e
com quem nós, seres humanos, podemos aprender.
Para desenvolvermos esses estudos ecossomáticos, será de suma
importância nos situarmos historicamente a partir do contexto colonial que
vivemos e adentrarmos minimamente na complexa discussão dos modos de vida
colocados na atualidade. Teremos que conhecer os movimentos sociais que
reivindicam a necessária, mas até agora não cumprida, reforma agrária brasileira,
assegurando ainda o direito indígena de demarcação de suas terras, para que seja
feita uma reparação histórica de um território invadido e colonizado, que teve seus
habitantes originários expulsos, exterminados e escravizados, e afrodescendentes
capturados e tornados escravos nestas terras, para que, minimamente todos
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tenham direito ao que é necessário para viver: habitar a terra. Mas também
conhecer as propostas complementares de transformação das próprias cidades,
para que deixem de ser antromas estéreis, privilegiando alguns poucos seres
humanos, para se tornarem biomas, que agregam a diversidade de existências e
modos de vida, com equidade e justiça social, permitindo também outras formas
de vida mais que humanas.
Assim, com esta consciência, talvez poderemos partir para a ação. Ao buscar
conhecer o rio mais próximo de nossas casas, por exemplo, e perceber que está
soterrado, talvez tentar criar meios para libertá-lo. Ao buscar uma praça, bosque
ou mata e não os encontrar, buscar formas de cultivar mais plantas, reflorestar os
espaços e, principalmente, as mentes. Podemos tentar também batalhar por
políticas públicas que visem esta transformação ecossocial.
Como artistas e educadores, não podemos ficar apartados das discussões
correntes dentro dos diversos campos das humanidades, que pensam
criticamente sobre os modos de vida, a história de nossos territórios e as
possibilidades de transformação.
Considerações finais
A partir do panorama exposto, tendo dimensão do problema e permanecendo
com ele, como aborda Donna Haraway (2023), para que consigamos criar
capacidade de resposta frente aos desafios do Antropoceno, acreditamos que seja
urgente criar um conjunto de pensamentos/ações ecológicos como parte do
sistema de ensino brasileiro.
Necessitamos tomar consciência, primeiro, de que não somos um único ser,
mas uma multidão de seres em relação. Somos o território em que vivem outros
seres vivos. Ademais, que não vivemos sozinhos neste planeta Terra, pois fazemos
parte de uma complexa rede biótica, e dentro desta diversidade de formas de
existência, não somos melhores ou mais inteligentes do que qualquer outra.
Somos seres terranos, ou seja, habitamos a Terra juntamente com outras formas
de existência que pensam, sentem, criam e resistem milhares de anos. No
entanto, não parece possível pensar no Outro, para além de si mesmo, em um
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ambiente hermético, que impede, justamente, a possibilidade de presença deste
outro. Precisamos criar outros espaços de ensino-aprendizagem.
Na formação em artes corporais, a partir de uma visão ecocêntrica, em que
se busca criar uma aliança entre a educação somática e a ecologia, o objetivo é
trabalhar no sentido de desenvolver uma consciência de si que não fique
destacada da consciência do outro e do espaço em que se vive. Nesse sentido,
Soma é encarado como um corpo em vida, pertencente a um espaço dinâmico,
em constante troca e relação.
Assim, acreditamos que a concepção de práticas ecossomáticas pode
contribuir para o enfrentamento do colapso socioambiental, uma vez que se pauta
na criação de um percurso de cuidados, conforme evoca Latour (2020a), para que
possamos resgatar o sentimento de pertencimento ao mundo que vivemos, pois,
como diria o autor: “não existe cura para o pertencimento ao mundo. Mas, pelo
cuidado, é possível se curar da crença de que não se pertence ao mundo; que essa
não é a questão essencial, que o que ocorre com o mundo não nos diz respeito”
(Latour, 2020a, p. 31). Ou seja, pelo cuidado talvez possamos encontrar maneiras
sábias e sensíveis de encarar a catástrofe para saber resistir à barbárie, conforme
pondera Stengers (2015).
Para isso, percebemos que o trabalho deve se dar numa perspectiva
transdisciplinar, como nomeia Anna Tsing (2019), pois os problemas que temos
que enfrentar na atualidade exigem outras abordagens e sistematização do
pensamento, menos pautados no racionalismo moderno e mais próximo das artes
e dos saberes ancestrais, por exemplo, como sugere a ecologia de saberes de
Boaventura de Sousa Santos (2002, 2007, 2010).
Como uma característica dessa faceta transdisciplinar para tentar lidar com
os fenômenos complexos de um planeta superexplorado e sobrecarregado,
Povinelli afirma que existe “um número crescente de geólogos e especialistas
climáticos que estão convocando com urgência novos diálogos entre as ciências
naturais, as ciências sociais, as filosofias, as humanidades e as artes” (Povinelli,
2023, p. 70).
Por conseguinte, se faz necessário um novo letramento: “cientistas, filósofos,
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antropólogos, políticos, teóricos da política, historiadores, escritores e artistas
devem unir seus saberes, desenvolvendo um grau de letramento mútuo e realizar
a polinização cruzada de suas linguagens interrompidas” (Povinelli, 2023, p. 71).
Assim, ao invés de ver a diferença entre as áreas, poderíamos nos questionar como
seria ver a partir das semelhanças e daquilo que tinham em comum antes de
serem apartadas.
Ponderamos que talvez este seja um chamado para sairmos de nossas salas
de aula, programadas dentro de uma perspectiva hegemônica, para que possamos
aprender em relação com outras realidades e modos de existência, ampliando
nossos referenciais para além do humano. Sendo assim, para que possamos
pensar, criar e fazer um futuro que não seja bárbaro e para que possamos lutar
por outro mundo ou, ainda, fazê-lo existir, torna-se cada vez mais urgente
repensarmos nossos currículos, abordagens metodológicas, planos de ensino e
espaços de formação.
Portanto, este ensaio não se propôs a servir como receita ou modelo a ser
seguido, mas como inspiração que pudesse motivar outros artistas, educadores e
pessoas interessadas no tema, a agir de forma lúcida, sensível e integrada, saindo
da inércia ou apatia. Desejou-se incentivar outras histórias e narrativas, pautadas
na ecologia, de forma que os agentes pudessem procurar seus pares e estabelecer
uma rede de criação conjunta e compartilhada.
Ademais, o presente texto objetivou agregar conhecimento acerca da
ecossomática, que ainda é pouco estudada em território nacional e apresenta
bibliografia escassa em língua portuguesa.
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Recebido em: 20/09/2025
Aprovado em: 11/11/2025
Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC
Programa de Pós-Graduação em Teatro
PPGT
Centro de Arte CEART
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas
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