
Teatro, racismo e identidade: a influência colonial na cena artística brasileira até o século XX
Uriel de Mesquita Chemin
Florianópolis, v.3, n.56, p.1-22, dez. 2025
2008, p. 145).
Apesar de não ser o período do qual esta parte do artigo pretende tratar, é
interessante notar que o teatro na Bahia já se encontrava amplo o suficiente para
que fosse separado por fases, em que movimentos surgiram e se foram. Ou seja,
de 1500 até 1923, houveram diversos artistas que performaram em seus
respectivos períodos, realizaram apresentações e, no entanto, não foram
considerados “parte do campo profissional”.
Estes artistas, fossem estrangeiros ou brasileiros, naturalmente ainda bebiam
das referências europeias e buscavam reproduzi-las no Brasil, havendo ainda certo
repúdio por artes “amadoras”, como Boccanera Junior (2008) exemplifica sobre a
dança ‘Lundu’ no Teatro São João:
Ignácio Accioly de Cerqueira e Silva era então o administrador do Teatro
São João, e por um ofício, datado de 22 de outubro de 1836, dirigido ao
Chefe de Polícia, Dr. Francisco Gonçalves Martins (depois Visconde de S.
Lourenço), consultado: [...] se reprovaria inteiramente que se pusesse em
cena em algum intervalo dos espetáculos do teatro público, a dança
denominada lundu por ser instado para a apresentar, por diversos
amadores, e porque disso reputava depender o interesse do mesmo
Teatro (Boccanera Junior, 2008, p. 152).
“Lundum ou Landum. Dança chula africana, usada também no Brasil. O
dicionário da língua bunda por Conecatim tem landú, todavia a forma geralmente
seguida é lundum” (Ernesto Vieira, 1899, apud Castagna, 2003, p. 319). Tal dança
era difundida predominantemente entre negros, brancos e mulatos, sendo
considerada “amadora” ou indigna de estrelar nos palcos do teatro público.
Apesar disso, José Pereira Rebouças, como narra Boccanera Junior (2008):
“Foi o primeiro brasileiro, na época colonial, diplomado em música, na Europa; e,
também, o primeiro que nos deu a conhecer, aqui na Bahia, as composições de
mérito dos insignes compositores italianos”, e este era muito bem-vindo a
performar no teatro, afinal, diferentemente de Lundu, este era profissional e não
era considerado “[...] imoral, ofensiva ao pudor das famílias, sobre demonstrarem,
atos dessa natureza, sancionados, menosprezo ao Teatro” (Boccanera Junior,
2008, p. 153), tal qual foi dito sobre a dança Lundu.
Portanto, podemos cogitar que o pensamento de Martim Gonçalves, ao