A história que Bacurau nos ensina a ensinar para ser “gente”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180315382023e0102

Palavras-chave:

saber e poder, ensino de história, Bacurau, literacia histórica

Resumo

O artigo tem o filme “Bacurau” como possibilidade de uso para o ensino de História partindo de um tempo distópico para pensar uma história do tempo presente, não desvinculado de seu passado. Entendemos que essas dimensões de tempo que se intercruzam podem ser trabalhadas nas práticas de ensino e de aprendizagem a partir do conceito de letramento histórico. Compreendendo-se a trama do filme como um artefato cultural, entende-se que, a partir de suas diversas narrativas, tempos e espaços interseccionados pelos habitantes e forasteiros de Bacurau, é possível identificar e problematizar os fios que conduzem a uma compreensão de conceitos historiográficos que favoreçam uma aprendizagem histórica fundada na complexidade do pensamento e da consciência histórica para estudantes da Educação Básica. Entendemos esses estudantes como parceiros de sala de aula que podem partilhar entre si e com o professor conhecimentos prévios identificados na vida prática dos personagens do filme e refletir sobre suas próprias identidades, sobre o exercício de cidadania e sobre as experiências cotidianas historicamente constituídas para construir novas estratégias de vida e resistência ao pensamento histórico eurocêntrico que continua a nos colonizar os corpos, mentes e hábitos. Espera-se que, ao trabalhar com o filme, professores e seus parceiros de sala de aula assumam uma condição de investigadores da história com vistas a elaboração de um conhecimento histórico próprio relacionado à cognição histórica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Francisco Egberto de Melo, Universidade Regional do Cariri

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Professor da área de Ensino de História, Departamento de História, da Universidade Regional do Cariri (URCA).
Desenvolve pesquisas no campo de ensino de História, com ênfase: formação de professores, currículo, história do ensino de História.

Referências

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz. Bacurau: será mesmo resistência? Saiba Mais. [S.l.], 15 set. 2010. Disponível em: https://www.saibamais.jor.br/bacurau-sera-mesmo-resistencia/. Acesso em: 02 fev. 2020.

ANDRADE, Breno Gontijo; RODRIGUES JUNIOR, Gilmar; ARAÚJO, Alexis Nascimento; PEREIRA, Junia Sales. Empatia histórica em sala de aula: relato e análise de uma prática complementar de se ensinar/aprender a história. História & Ensino, Londrina, v. 2, n. 17, p. 257-282, jul./dez. 201. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/16600. Acesso em: 31 out 2021.

AUSUBEL, David. Aquisição e retenção do conhecimento: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Editora Plátano, 2003.

BACURAU. Direção: Kleber Mendonça Filho; Juliano Dorneles. Produção: SBS Productions, CinemaScópio e Globo Filmes. Intérpretes: Sônia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Thomas Aquino, Silvero Pereira, Thardelly Lima, Rubens Santos, Wilson Rabel et al. Roteiro: Kleber Mendonça Filho; Juliano Dorneles. Brasil. Distribuição: Vitrine Filmes (Brasil) e SBS Distribuition (França). 2019. 1 DVD (131 min).

BARCA, Isabel. Literacia e consciência histórica. Educar em Revista, Curitiba: Editora UFPR, v. 22, p. 93-112. 2006. Número especial. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/571589/mod_resource/content/1/artigo%20Isabel%20Barca.pdf. Acesso: 20 fev. 2021.

BASTOS, Felipe; GONÇALVES, Eduardo. “Quem nasce em Bacurau é gente?” Gênero e precariedade de vida no filme Bacurau. Revista Digital do LAV, Santa Maria: UFSM, v. 13, n. 2, p. 236-253, maio/ago. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revislav/article/viewFile/44052/pdf. Acesso: 15 fev. 2021.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CARVALHAL, André. Bacurau é aqui e quem nasce em Bacurau é ... a gente. Carta Capital, São Paulo, 05 set. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/bacurau-e-aqui-e-quem-nasce-em-bacurau-e-a-gente/. Acesso: 02 fevereiro de 2020.

DOSSE, François. História do tempo presente e historiografia. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 4, n. 1, p. 5-22, jan./jun. 2012. Disponível em: file:///C:/Users/franc/Downloads/HISTORIA_DO_TEMPO_PRESENTE_E_HISTORIOGRAFIA.pdf. Acesso: 30 jan. 2020.

FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 199-215.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1987.

FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: forense, 2016a.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2016b.

FOUCAULT, Michel. Des espaces autres. Tunísia, 1967. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrit: II. 1976-1988. Paris: Gallimard. 2017a. p. 1571-1581.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade III: o uso dos prazeres. São Paulo: Paz e Terra, 2017b.

FOUCAULT, Michel. Questions à Michel Foucault sur la géographie. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrit: II. 1976-1988. Paris: Gallimard. 2017c. p. 28-40.

FOUCAULT, Michel. Sur les façons d’écrire l’histoire. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrit: I. 1954-1975. Paris: Gallimard, 2017d. p. 613-628.

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.

HADDAD, Fernando. Bacurau não é um filme sobre o imperialismo, mas sobre nós mesmos. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 set. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernando-haddad/2019/09/bacurau.shtml?origin=uol. Acesso em: 01 fev. 2020.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 7. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.

LEE, Peter. Progressão da compreensão dos alunos em história. In: BARCA, Isabel. (org.). Perspectivas em educação histórica. Braga: CEEP, Universidade do Minho, 2001. p. 13-27.

LEE, Peter. Educação Histórica, consciência histórica e Literacia histórica. In: BARCA, lsabel. (org.) Estudos de consciência histórica na Europa, Ásia e América. Braga: Uniminho. 2008.

LEE, Peter. Putting Principles into Practice: Understanding History. In: HOW STUDENTS LEARN: History in the classroom. Washington: The national academies press, 2005. p. 31-77.

LEE, Peter. Em direção ao conceito de literacia histórica. Educar em Revista, Curitiba: Editora UFPR, p.131-150, 2006. Especial. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/5543. Acesso em: 25 fev. 2021.

LEE, Peter. Literacia histórica e história transformativa. Educar em Revista, Curitiba, n. 60, p. 107-146, abr./jun. 2016.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.

MAGNOLI, Demétrio. 'Bacurau' é testemunho da extinção de vida inteligente na esquerda brasileira. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 set. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/09/bacurau-e-testemunho-da-extincao-de-vida-inteligente-na-esquerda-brasileira.shtml. Acesso em: 03 fev. 2020.

MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa. Brasília: Universidade de Brasília. 1999.

MULLER, Helena Isabel. História do tempo presente: algumas reflexões. In: PÔRTO JR., Gilson. História do tempo presente. Bauru: Edusc, 2007. p. 17-30.

PEREIRA, Nilton Mullet. Ensino de história e resistência: notas sobre uma história menor. Revista @rquivo Brasileiro de Educação, Belo Horizonte, v. 5, n.10, p. 103-117, jan./abr. 2017. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/arquivobrasileiroeducacao/article/view/P.2318-7344.2017v5n10p103. Acesso em: 15 fev. 2021.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa: tomo III. Campinas: Papirus, 1997.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.

RÜSEN, Jörn. Experiência interpretação, orientação: as três dimensões da aprendizagem histórica. In: SCHMIDT Auxiliadora; BARCA Isabel; MARTINS Estevão Rezende (orgs.). Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Ed. UFPR, 2011. p. 79-92.

SANTOS, Myriam Sepúlveda dos. Memória coletiva, trauma e cultura: um debate. REVISTA USP, São Paulo, n. 98, p. 51-68, jun./ago. 2013. Disponível em: file:///C:/Users/franc/Downloads/69270-Texto%20do%20artigo-91578-1-10-20131220.pdf. Acesso em: 15 fev. 2021

SOUZA, Éder Cristiano de. Cinema e educação histórica: jovens e sua relação com a história em filmes. 2014. Tese (Doutorado em Educação) − Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014. Disponível em: http://www.ppge.ufpr.br/teses/d2014_Eder%20Cristiano%20de%20Souza.pdf. Acesso em: 03 jan. 2021.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; GARCIA, Tânia Braga. Apresentação. Educar em revista, Curitiba, , p. 01-02, 2006. Número especial. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/issue/view/251/showToc. Acesso em: 02 fev. 2021.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O historiador e a pesquisa em educação histórica. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, v. 35, n. 74, p. 35-53, mar./abr. 2019. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/issue/view/2501/showToc. Acesso em: 02 de fevereiro de 2021.

SILVA, Marcos. Depois da ditadura: cidades brasileiras de cinema (Cidade de Deus, Cidade bixa e O céu de Suely). In: SILVA, Marcos; RAMOS, Alcides Freire (orgs.). Ver história: o ensino vai aos filmes. São Paulo: Hucitec, 2011. p. 191-208.

SWAIN, Tania Navarro. Para além do sexo, por uma estética da liberação. In: ALBUQUERQUE Jr, Durval Muniz; VEIGA-NETO, Alfredo; SOUZA FILHO, Alípio. Cartografias de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 393-406.

SZLACHTA JUNIOR, Analdo Martins; RAMOS, Márcia Elisa Teté. As contribuições da Históry Education para a pesquisa em ensino de História. In: ANDRADE, Juliana Alves; PEREIRA, Nilton Muleet. Ensino de história e suas práticas de pesquisa. São Leopoldo: OIKOS, 2021. p. 96-113.

VEYNE, Paul. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

ZANOTO, Gizele. Aprender com o cinema, aprender sobre o cinema: a sétima arte e o ensino de história. In: VALÉRIO, Mairon Escorsi; RIBEIRO JUNIOR, Halferd Carlos. Ensino de história: memória e identidade. Jundiaí: Paco Editorial: 2016. p. 31-46.

Publicado

2023-03-26

Como Citar

MELO, Francisco Egberto de. A história que Bacurau nos ensina a ensinar para ser “gente”. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 15, n. 38, p. e0102, 2023. DOI: 10.5965/2175180315382023e0102. Disponível em: https://www.periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180315382023e0102. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos